Cristão: Discípulo de Cristo; Que adere e pratica a doutrina de Cristo.
Adequando para o que pretendo explorar, “crente” é aquele que crê em Jesus e “cristão” é aquele que vive como Jesus. Com base nas definições acima, verificamos que há uma grande diferença entre um estado e outro. Uma coisa é crer, outra coisa é viver embasado e direcionado naquilo que se crê. A grande questão é em qual dos grupos nos encaixamos? No majoritário ou no que realmente faz alguma diferença em nossas vidas? Mais um crente, ou um dos poucos cristãos da atualidade?
Em nossas vidas, podemos acreditar em diversas coisas, que muitas vezes não influenciam em nada nossa conduta, agir e viver. Na escola, por exemplo, experimentamos muito isso. Podemos acreditar em fórmulas químicas, em descobertas científicas, e até mesmo nas teorias e especulações tidas como fatos, mas a despeito de acreditarmos nisso ou não, nossa vida segue em frente, sem nenhuma modificação relevante.
Se não pretendemos seguir uma carreira de cientista ou psicólogo, por exemplo, a Teoria da Relatividade ou a reação do Reflexo Condicionado provavelmente não alterarão em nada nossas vidas, mas podemos crer que elas são verdadeiras. Para mim, por exemplo, que trabalho na área administrativa de uma instituição, posso crer que o código de DNA tenha sido decifrado de maneira correta, mas em nada minha rotina é alterada. Já para um cientista, essa crença muda em muito seus pontos de vista, e ele passa a trabalhar embasado nesta descoberta.
O problema é que muitos assumem esse comportamento dissociativo diante da questão religiosa, pensando que podem apenas crer num deus, mas desprezar seu conceitos, vivendo uma vida alienada dos preceitos dessa religião/divindade. Hoje em dia há diversas religiões cujos seguidores vivem seus ensinamentos - um grande exemplo desta obediência fica com os islamitas -, mas há religiões cujos seguidores apenas as adotam como favorita, mas ignoram seu teor, e infelizmente, penso que uma das religiões que mais desliga a necessidade de se crer da de se fundamentar naquilo que se crê é o cristianismo hodierno. Grande parte dos que se dizem religiosos cristãos (viz., os protestantes, católicos, católicos romanos, ortodoxos...) acredita na Bíblia, porém não dá a devida importância à prática de seus preceitos. Existe até a divisão “Religioso Praticante” e “Religioso Nominal”, diferenciando um religioso que pratica o que crê do que apenas crê. E o pior é que grande parte dos que se consideram “religiosos praticantes” são na verdade apenas religiosos nominais, embora se reputem como praticantes.
Hoje pela manhã, aproveitando minhas férias, subi à laje de casa e comecei a refletir a respeito de minha vida.
Uma rápida introspecção começou a me preocupar:
- Como alguém perceberia que eu sou cristão? Minha vida atual, sendo levada como está, é capaz de demonstrar por si mesma que sou um verdadeiro filho de Deus? O que faz de mim um cristão, diferente de qualquer mero crente?
Hoje vemos muitos dizendo-se evangélicos, protestantes, avivados, reformados, mas será que acima destas denominações ou grupos, estão sendo cristãos, ou apenas têm se arrolado num grupo e acreditado na Bíblia e em Deus? Será que estes que se dizem cristãos não passam de pessoas adeptas de uma religião, que crêem nos conceitos e parâmetros dela, mas que vivem em cima do muro? Será que eu tenho sido assim? Se um discípulo é aquele que é instruído, aprende, absorve e pratica o que lhe foi ensinado, será que paramos em algum estágio mediano desta seqüência?
A Palavra de Deus é clara quanto ao que devemos fazer. Ela nos dá diversas diretrizes a serem cumpridas e seguidas, em diversas áreas de nossa vida. Acho engraçado como ouvimos muitas vezes:
- A porta para o céu é estreita, e poucos entram por ela!
Mas ao mesmo tempo, não estranhamos viver um caminho largo e espaçoso, com a convicção de que a grande maioria subirá ao Céu por ele. Que misterioso caminho estreito será esse, que tão poucas vezes trilhamos?
Vamos verificar pela Bíblia se temos vivido aquilo que é esperado de nós, e se as instruções recebidas estão sendo observadas e obedecidas, a fim de concluirmos se temos sido apenas crentes, ou de fato cristãos. Vou analisar algumas características ingênitas do cristão, para embasarmos nossa convicção de forma mais prática e convincente. Não poucos, porém não todos. Ainda não me insiro no grupo dos que estão em dia com todos os requisitos, então peço perdão se der a entender qualquer superioridade.
* Meditar na Palavra de Dia e de Noite
No livro de Salmos, o autor diz que devemos meditar dia e noite na Palavra de Deus. Pensar nela, ter prazer e amar a Palavra. Algumas vezes se ouve diálogos como o seguinte entre os evangélicos:
- Amado, o que você tem da Palavra para compartilhar comigo essa semana, hein?
- Ah... Minha semana foi tão corrida que nem tive tempo de ler a Bíblia.
Reflito comigo mesmo que se o indivíduo não teve tempo nem de ler a Palavra de Deus ao menos uma vez durante a semana, quanto ele não está longe do padrão que Deus requer, de se meditar durante todo o dia em Sua Palavra. Como disse Charles Spurgeon num sermão tão atual, porém pregado em 1855, “a capa da Bíblia de alguns cristãos está tão empoeirada, que facilmente se pode escrever CONDENADO com a ponta dos dedos nela”.
Como os crentes estão distantes da Palavra! Não há mais fome. Os poucos que lêem tão somente lêem, mas não meditam. Não há reflexão, absorção. Há alguns que lêem em doses homeopáticas, com suas caixinhas de promessas, limpando sua consciência, ao se auto-afirmarem que “já leram a porção do Senhor”. Alguns poucos se arriscam a ler a Bíblia inteira, mas de uma forma tão robotizada, desinteressada, que proveito algum se tira da leitura. Não se ouve mais a voz de Deus por meio da Palavra, não porque Ele se calou, mas porque não há mais interesse ou fé nessa possibilidade.
“Um crente admira a Bíblia. Um cristão a devora!”
*Orar pelos Missionários
Paulo nos instrui a orar pelos missionários, e para que sejam abertas portas para o Evangelho ingressar nas regiões mais hostis e inóspitas do globo, mas quantos de nós temos orado por eles de forma freqüente e constante? Por quantos missionários temos nos proposto a orar diariamente?
Costuma-se dividir as funções missionárias em ir, contribuir e orar. Em qual destas operações temos nos encaixado piamente? Digo piamente, pois o fato de nos emocionarmos após um Congresso Missionário e sermos constrangidos a doar R$10,00 não fazem de nós um contribuinte devoto. Quantos missionários ao redor do globo podem dizer que são sustentados com nossa ajuda presencial, financeira ou espiritual? Um cristão está apaixonadamente ligado às missões, afinal, qual é a grande tarefa da Igreja? Certamente não é engordar o próprio espírito semanalmente entre as quatro paredes de uma instituição, mas sim expandir o Reino de Deus nesta terra.
“Um crente às vezes se comove, sendo levado emocionalmente a orar e interceder por um país miserável. Um cristão sabe que toda vida longe de Deus precisa de salvação, e se compromete em salvar almas ou ajudar neste propósito.”
* Ajuntar tesouros no Céu
Lemos na Palavra que devemos investir no Reino de Deus, seja dizimando, ofertando, doando-nos ou doando nossos bens à causa do Senhor. Muitas vezes pensamos que ao dizimar, estamos cumprindo nossa obrigação e ponto final, entretanto, Jesus nos disse que “o servo que faz somente aquilo que lhe pedem é um servo inútil”. Devemos ir além: Contribuir com missões, com instituições, com ações sociais, com nossa igreja. Há alguns dias, presenciei uma situação interessante. Alguns jovens acusavam outro de “muquirana”, pois não queria gastar R$60,00 num restaurante exótico. Constrangeram tanto aquele jovem, dizendo que era muito avarento e mesquinho, que o jovem revidou, indagando:
- Amigo... Quanto você tem doado à Campanha de Reforma da sua igreja?
- Ah... Eu ainda não doei nada não... Eu sempre esqueço.
- Ah tá... E quantos missionários você tem sustentado com seu salário?
- Bom... Nenhum.
- Certo. Quantas pessoas você abençoou este mês, seja com alimentos, roupas ou o que for?
- Nenhum. Eu não conheço ninguém que precise.
- E procurou saber se havia alguém que precisasse?
- Não.
- Tá... E quantos brinquedos você levou para a Campanha de Brinquedos?
- Você quer ir ou não?
A inversão de valores e a incoerência têm controlado o bolso de muitos cristãos. Pessoas que certamente gastam no lazer mensal um valor mais alto que o próprio dízimo e ofertas.
- Ora... Mas Deus só pede o dízimo, então não tem nada a ver.
Deus não pede o seu dízimo. Pede sua vida. De qualquer forma, nada nos proíbe de gastarmos dinheiro conosco, para nosso prazer e alegria, mas se esse é o nosso maior deleite, certamente nosso tesouro celestial empobrecerá, ou no mínimo se manterá pobre, pois não fazemos nada mais que nossa obrigação, e como nossa vida terrena não representa nem 0,0001% do tempo que passaremos na eternidade, é melhor investir lá do que aqui!
“Um crente ajunta tesouros efêmeros e corruptíveis, enquanto o cristão acumula tesouros eternos e indeterioráveis.”
* Visitar os Órfãos e as Viúvas
Tiago nos diz que a verdadeira religião envolve esta prática. Visitar órfãos e viúvas desprezados pela sociedade, muitas vezes enclausurados e esquecidos por seus familiares e amigos. Por quanto tempo de nosso dia temos exercido a verdadeira religião? Ok! Quantas vezes por mês? Muito pesado? Está bem. O arremate: Quantas vezes por ano visitamos e cuidamos dos órfãos e viúvas, abandonados e marginalizados por nossa sociedade?
Se a correria do nosso dia-a-dia e as inúmeras atividades têm nos impedido de exercer nosso papel de cristãos, precisamos rever nossa agenda.
“Um crente se compadece das notícias terríveis no noticiário, sobre os maus tratos com estas pessoas, mas um cristão faz a diferença e vive inclusive em prol destes que sofrem com o abandono, afinal, o Pai dos cristãos é o Pai dos Órfãos e Defensor das viúvas.”
* Guardar-se da Maldade
Desde o pecado adâmico, a maldade reina num mundo que jaz no Maligno, e com o desfolhar dos calendários, o mal se avulta desatenciosamente, adentrando às nossas casas por meio de notícias, televisão, rádios, computadores, conversas informais, livros e muitos outros meios de propagação.
Os filhos de Deus estão sendo menos astutos que os filhos deste mundo, não filtrando o que entra em suas vidas. Assistimos qualquer filme, freqüentamos qualquer ambiente, escutamos qualquer música, lemos qualquer revista, admiramos qualquer obra e extinguimos quaisquer “resíduos” do Espírito Santo que possam nos preencher, e nos alertar a respeito daquilo que nos é prejudicial. Uma cena picante aqui, uma rápida dança sensual ali, uma conversa inocente num dia, um filminho maligno entre amigos pra descontrair (ou melhor, contrair), uma conversa maliciosa pra provar que crente também é homem, e que mulher de Deus não é um ser rupestre.
Paulatinamente o mal tem ingressado em nossos lares e nossas vidas, arraigando-se de forma cada vez mais difícil de se extirpar. Somos vorazes e rudes numa batalha espiritual, mas delicados e insensíveis com as artimanhas do inimigo, em suas astutas ciladas. Cada vez mais, possibilitamos a entrada de tentações em nossas vidas. Lemos na Bíblia que nos últimos dias, “o amor de muitos se esfriaria”, e parece que não somente o amor, mas também a noção do que é puro e do que é impuro tem se esvaído.
Nos tempos de Moisés, um adultério era punido com a morte, mas hoje, é um dos problemas mais corriqueiros e admissíveis da igreja. Perdeu-se a noção do que é ser totalmente santo. O alvo não é mais a estatura de varão perfeito, mas a estabilidade num estado de tepidez aceitável.
Ao assistir um filme ou programa, muitas vezes somos pegos torcemos pelo bandido, ou para o jovem galã que está dando mais atenção à mocinha que o marido. Crentes têm justificado a traição com frases medíocres como “quem não dá assistência abre espaço pra concorrência”, ou seja, se o seu marido/esposa é meio devagar, ao invés de orar e buscar ajuda do Senhor, vá se engraçar com o vizinho(a), afinal, a culpa não é sua. Cuidado!
Se a sociedade cristã hodierna fosse o exército sob comando de Josué, muito provavelmente se prostituiria com os povos conquistados muito mais que os israelitas. Se Deus foi tão rigoroso com os moradores de Sodoma e Gomorra, que não tinham cristãos para se unirem e ajudarem, igrejas para se ouvir a Palavra de Deus, e nem sequer Bíblias, para iluminar seus caminhos, qual será o subterfúgio dos crentes atuais apresentado ao Senhor? Lembremo-nos que a verdadeira religião inclui guardar-se da maldade.
“Um crente sabe que está correndo riscos e apenas chora. Um cristão avista o problema, como bom vigilante, o extermina e o enterra!”
* Orar pelos Enfermos e Doentes
A Palavra nos orienta a orarmos pelos enfermos e doentes, valendo-nos do poder que Cristo nos concedeu. Quantas vezes temos visto pessoas passando mal, enfermas, depressivas, e pensamos em tudo, menos em utilizar a força do Espírito que habita em nós, orando por estas pessoas. Pensamos em levar ao médico, dar sugestões e orientações sobre como proceder, mas não oramos por ninguém.
- Eu não.. Vai que não acontece nada, ou piora. Mesmo porque, Tiago diz que elas têm que ser encaminhadas aos presbíteros.
Muitas vezes encaminhamos estas pessoas para os pastores e diáconos, lideres de intercessão, para nos isentar da responsabilidade que nos foi dada, ou para “não pagar mico”.
O poder de Jesus foi dado aos filhos. Alguns têm dons específicos, mas a autoridade foi dada a todos nós, para orarmos, expulsar demônios, curar enfermos. Precisamos externar nosso potencial, a despeito de se somos de um ministério de cura ou libertação. Devemos simplesmente cumprir a vontade de Deus que é a de orarmos pelos enfermos, deixando-O curá-los através de nós.
O Espírito Santo que esteve sobre Jesus Cristo, previsto por Isaías, também está sobre nós, e nos capacita a todas aquelas funções, mas...
“... um crente prefere sempre encaminhar pessoas às autoridades, ou dá conselhos humanos (quando não são desumanos). Já um cristão exerce seu papel e a autoridade que lhe foram dados, orando pelas pessoas, agarrados àquilo que a Palavra de Deus promete, e não às situações constrangedoras que podem ter ‘dado errado’.”
* Buscar Sabedoria
Em nossa vida, almejamos um bom emprego, bens materiais, um carro novo, casa própria, mas a Palavra nos diz em Provérbios que o que realmente devemos buscar com empenho, mais do que o ouro ou a prata, é a sabedoria. A garantia que Tiago nos dá é a de que se a buscarmos, a receberemos, pois o Senhor a dá liberalmente àqueles que a buscam, mas, quem tem buscado? Não apenas o conhecimento ou intelectualidade, mas a sabedoria.
É possível ser sábio sem instrução secular, sem intervenção humana. Deus pode conceder diretamente esta dádiva, mas provavelmente o fará para aqueles que a almejam.
Apesar de a Palavra não nos proibir de sonhar com bens materiais, ela não enfatiza a necessidade de pedirmos estes bens tanto quanto à sabedoria. Quantos de nós ansiamos por benefícios efêmeros, triviais, enquanto aquilo que realmente importa sequer aparece em nossos sonhos e pretensões.
“Um crente pode procurar bens e benefícios humanos, mas o cristão prioriza o ser sábio.”
* Amar a Deus e ao Próximo
Este é o mandamento mais importante que Deus nos deixou. Amá-lO acima de tudo e amar ao próximo tanto quanto amamos a nós mesmos. Nossos atos cotidianos mostram que amamos a Deus acima de tudo, e ao nosso próximo, ou simplesmente mostram o quanto amamos a nós mesmos? Temos vivido uma vida de intimidade com o nosso Amado, e de compaixão com aqueles que nos cercam, ou vivemos uma vida desregrada, alheia à vontade de Deus, julgando nosso próximo, prepotente e rigorosamente?
Nossa vida deve ser a evidência de que amamos a Deus e ao nosso próximo. Tudo deve ser feito sob este mandamento, afinal, toda a Lei se resume nestes dois pontos.
“Um crente acredita que Deus existe, mas vive uma vida independente, dissoluta, adversa aos princípios do Pai. Egoísta, busca sempre os interesses próprios e a exaltação. Um cristão não. Um cristão é como Cristo. É um com o Pai, e mantém uma relação íntima com Ele, embasada no amor oriundo do próprio alvo, e junto a Ele opera maravilhas e vive uma vida abundante, amando ao próximo, edificando a noiva de Cristo, desejando altruisticamente o melhor para outrem e considerando seu próximo superior a si mesmo.”
* Buscar Primeiro o Reino de Deus
Neste sistema predatório em que os que não devoram são devorados, o homem é estimulado a buscar o benefício em tudo. Nossa ambiência gera diversos “Gérsons”, que só admitem a vantagem, sejam quais forem os meios para isso. Ególatras, adoram o próprio umbigo e ignoram o fato de que a qualquer hora, poderão perder sua alma. Desejam apenas aumentar seus armazéns, expandir suas estacas, vestir-se como reis e rainhas, desviando-se cada vez mais da Verdade. Um crente até pode viver assim, mas não um cristão. Um cristão tem e mantém seus olhos voltados para o alto. Pensa nas coisas de lá. Entesoura riquezas ali.
Um cristão busca primeiramente as coisas do Reino de Deus:
Obedecer à voz de Deus, andar em Seus caminhos, sonhar os sonhos do Rei, sentir como Jesus sentiu, servir ao próximo como o próprio Deus serviu, ter a Unção do Altíssimo, saquear o inferno com pregações, evangelismos e um bom testemunho de vida. Um cristão pensa como Cristo, sente como Cristo, chora como Cristo, serve como Cristo, se esvazia como Cristo, se humilha, vive e morre como Ele.
A filosofia de vida do Reino de Deus é antagônica à deste reino maligno. Custou para os discípulos entenderem, mas entenderam! Está custando para os crentes entenderem, e ainda não entenderam! O cristão não deve se inquietar com o que há de comer, com que há de se vestir, mas sim se esforçar em fazer a vontade de Deus!
“Para um crente isso é um regime escravista. Para um cristão, uma honra indizível.”
* Morrer para Si Mesmo... O dia todo!
Paulo afirmava que “morria todo dia”. Particularmente, prefiro a tradução que diz “morria o dia todo”. Ele não queria dizer que morria para si mesmo em alguns momentos de seu dia, mas que morria o dia inteiro para ele, ou melhor, mortificava seu velho homem a cada segundo do dia. Há quem diga:
- Às vezes eu estreito meus caminhos. Tomo decisões que são uma morte para mim.
Mas decisões assim não devem ser eventualidades em nossas vidas. Devem dirigi-las. Não devemos abrir mão de alguns momentos de nossa vida. Devemos abrir mão da própria vida. Jesus afirmou que aquele que não perder sua vida não a viverá verdadeiramente. Não a “achará”. A mortificação deve ser uma constante em nosso dia a dia, para que através dessa sinergia entre nós e o Espírito, pessoas possam ser transformadas, curadas, salvas... Vivas!
Sabemos que biologicamente, se uma semente de trigo não morrer e cair ao solo, não gerará vida. Todavia, se morrer, gerará uma média de 200 novos grãos de trigo. Conosco o mesmo se dá: Precisamos morrer para nós mesmos, sair da árvore do pecado e da falsa liberdade, da auto-suficiência e independência e deixar-nos cair no solo fértil que Deus tem preparado aos que renunciam a si mesmos. Assim, nascemos de Deus, firmes e fortes, e damos frutos que glorificam ao próprio Pai. Mas, se vivemos para nós mesmo, se não desgrudamos meus pés deste mundo, recusando-nos a entrar no Rio de Deus, morreremos secos, sem utilidade nem valor.
Crentes podem ser comparados com esta semente inútil, afinal, conhecem a Deus de ouvir falar, mas não estão engalhados n’Ele. Já um cristão, não! Este anda com Deus e vive uma vida plena, abundante,
Muitas pessoas têm defendido uma vida cristã leve, fácil, leviana, afirmando que o jugo do Senhor é leve, mas se esquecem que ainda existe uma cruz a ser carregada
Jesus nos diz que quem não tomar voluntariamente sua própria cruz não é digno de ser chamado de discípulo de Cristo (ou seja, cristão). A cruz pesa, corrói, machuca, raspa. Se não nos voluntariamos nem mesmo a carregar a cruz pela via dolorosa que infelizmente ainda existe e é real na vida do verdadeiro cristão, como diremos que nela morreríamos crucificados? O que é leve não é a cruz, mas sim o alívio proporcionado por Cristo para aqueles que a carregam. Assim como Deus aliviou as costas do Messias com Simão Cirineu, Jesus nos aliviará enquanto estivermos subindo o Gólgota do dia-a-dia. Revise sua religião, caso ela esteja pendendo mais para a auto-realização que a auto-renúncia, afinal, quem prometeu um contrato assim foi Satanás, no deserto, e não Jesus, no Calvário.
“Um crente pensa que o “Carpe Diem” contrapõe tais mortificações. O cristão, por sua vez, mortifica-se para atingir o máximo aproveitamento de uma vida plena.”
* Pregar o Evangelho em Todo o Tempo
A Palavra do Senhor nos orienta a pregar o Evangelho a tempo e fora de tempo, ou seja, pregar a toda hora. Que nossa vida seja uma pregação. Como disse Paulo, somos como uma carta aberta, então, que seja um Evangelho, e não um Apócrifo. Obviamente não poderemos pregar a todo instante, mas mesmo quando impossibilitados de falar, que nossa vida seja um testemunho de vida.
Importante: Isso não é subterfúgio para não pregarmos o Evangelho com palavras. Muitos se valem de frases como “pregue o Evangelho e, se necessário, use palavras” para esconder uma vida deficiente de evangelismos e pregações. Os dois procedimentos não podem ser excludentes. Precisamos pregar e viver. Viver e pregar. A fé vem pelo ouvir, então além de termos uma vida de testemunho, preguemos a Palavra em todo lugar, em todas as oportunidades.
“Um crente diz:
- Ai de mim se meus amigos me virem pregando.
Um cristão se junta a Paulo e diz:
- Ai de mim e de meus amigos, se eles não me virem pregando.”
* Orar Sem Cessar / Fechar a Porta e Orar a Sós com Deus
Outra necessidade básica na vida do cristão é a comunhão com Deus.
Uma vida de intimidade requer diálogos, conhecimento, harmonia. Nossa relação com Deus se assemelha muito com alguns aspectos das relações humanas. É difícil desenvolver comunhão com alguém que se comunica tão escassamente conosco. Não gostamos de pessoas que vivem a pedir, por exemplo, nem valorizamos muito uma amizade egocêntrica, egoísta, instável, desconfiada.
Com Deus, devemos ser assim, amigos, e não apenas servos. Para tal, devemos cultivar uma amizade firme e constante com Ele.
É claro que não podemos nos esquecer quem somos e quem Ele é, e respeitá-lO, mas também devemos ser sinceros com Ele, nos desmascarar e abrir nosso coração com Ele. Falar com Ele em todo o tempo, seja numa oração pública, seja caminhando na rua, tomando banho. O que importa é desenvolvermos uma amizade com Ele.
No Getsêmani, Jesus repreendeu seus discípulos por não conseguirem permanecer por “míseros” 60 minutos em oração. Quanto não nos repreenderia por não conseguirmos passar mais de 10 minutos ajoelhados! Isso não deve ser um peso. Deve ser um prazer! Qual o namoro que perdura quando o casal não gosta de estar junto?
Nos tempos de Moisés, pouquíssimos tinham acesso a Deus, sendo que apenas Moisés falava com Ele face a face, como se fala com um amigo, porém, hoje, mesmo com o véu rasgado, pouquíssimos cultivam uma vida de relacionamento com Deus.
Devemos orar em todo o tempo, e orar não deve ser sempre algo formal (se é que em algum momento deva ser), mas algo natural, sincero, confiante, deleitoso. Ter comunhão íntima e pessoal com Deus exige algumas vezes um pouco de solitude. Muitos conversam com Deus nas igrejas, nos cultos e reuniões, mas não tem intimidade pessoal com Ele. Jesus nos orientou a fechar a porta e passar um momento a sós com Deus. Longe de todo barulho será mais fácil escutar Sua voz. Cantamos que desejamos “um lugar para dois: só eu e Jesus”, mas nossa falta de oração demonstra que não queremos nada disso.
“O crente ora apenas pedindo coisas, ou rezando sempre a mesma coisa, pois ouve falar que isso resolve problemas. Já o cristão, fala com Deus, se relaciona com Ele, pois O conhece de andar com Ele.”
* Se Encher do Espírito Santo
Como o fogo que se apaga com o tempo, e carece de mais lenha para se manter afogueado, precisamos nos manter cheios do Espírito Santo, enchendo-nos com aquilo que a Palavra nos dá. Paulo adverte os tessalônicos que o Espírito Santo pode ser apagado de dentro do homem, conforme nossas obras, mas consola os efésios e os ensina a manter o Espírito Santo bem “aceso”. Na lista, encontramos as seguintes instruções: (1) Falar entre nós com salmos, hinos e cânticos espirituais, (2) louvar e salmodiar ao Senhor em todo o tempo, (3) ser grato e (4) andar humildemente.
Estes quatro procedimentos aperfeiçoam (1) nosso relacionamento com o próximo, falando com ele de forma mansa, graciosa, agradável, e nosso relacionamento com Deus, (2) louvando-O em todo o tempo. Diz também respeito a nossa confiança no Senhor, afirmando que, por todas as coisas cooperarem para o nosso bem, (3) devemos agradecer a Deus por tudo, crendo que Ele vai à nossa frente. Aperfeiçoam também (4) nossa postura de humildade diante de Deus e dos homens, lembrando que Ele é Deus, e nós somos pó, inclusive considerando nosso próximo superior a nós mesmos. Agindo assim, nos manteremos cheios do Espírito, e viveremos plenamente com Cristo.
“Um crente sequer cultiva um relacionamento com o Espírito Santo. Já o cristão, está pleno deste Amigo mais chegado que um irmão.”
* Buscar Diligentemente os Melhores Dons e Revestir-se da Armadura de Deus
Nos dias atuais, temos tantas necessidades e desejos que acabamos deixando pra trás o primordial. Nossa sociedade exige de nós um status, uma posição quase impossível de se encaixar. Precisamos ser bonitos demais, ter um corpo perfeito, morar num ótimo bairro, ter a melhor casa e o melhor carro. Esse desejo em ter uma posição social nos faz muitas vezes esquecer que estamos neste mundo de passagem, e que nesse ínterim, temos a meta de glorificar a Deus e expandir Seu Reino. Para tal, o Senhor nos disponibiliza diversas armas ofensivas e defensivas para que combatamos eficazmente o “bom combate”. O problema é que a ganância por bens materiais e uma vida super cômoda têm suplantado estas nobres dádivas que o Senhor tem para nós.
Hoje buscamos os melhores bens, ao invés de os melhores dons; um carro, ao invés de sabedoria. Ambicionamos uma mansão, em vez de discernimento de espíritos; um carro blindado em vez de um escudo do Espírito. Como seremos grandes lutadores e guerreiros do Senhor, se temos almejado carruagens bonitas, em vez de armas afiadas? Corrido atrás de roupas de marca, em vez de uma couraça de Justiça para a batalha que travamos, querendo ou não, diariamente?
“Um crente pode ser engodado pelas seduções deste século, mas não o cristão. O cristão não perde o foco, e busca as coisas do alto. Aquilo que é prioritariamente necessário para sua passagem por este mundo morto no Maligno.”
* Exercer o Fruto do Espírito
Esta talvez seja uma das mais claras distinções entre um crente e um cristão. O caráter transformado, um temperamento controlado. Sabemos quão difícil é alcançar a estatura de varão perfeito, mas enquanto não nos esforçarmos em nos despir de nosso velho homem, será certamente impossível alcançar esta posição.
Precisamos exercer nossa fé e agir segundo o fruto do Espírito, isto é, com amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Exercer estas qualidades em nosso dia a dia deve ser uma meta.
Temos corrido atrás de frutos ministeriais como crescimento quantitativo, curas, milagres, e devemos mesmo sonhar com isto, mas não podemos nos esquecer que o que nos fará mais parecidos com Cristo são as características que o Espírito Santo pode gerar em nós.
“Muitos crentes que curaram e expulsaram demônios não subirão ao Paraíso, mas certamente os cristãos cheios do Fruto do Espírito adentrarão ali.”
* Adorar em Espírito e em Verdade
Você se sente feliz quando está procurando algo meticulosamente, e encontra o objeto da busca? Você valoriza demais aquilo que achou? Se sente realizado? Deus também! Os olhos do Senhor percorrem a terra em busca de adoradores que O adorem de verdade. Não apenas pessoas que cantem, toquem, ou ministrem, mas que O adorem. Isto tem que partir de nós. Se Deus está buscando, é porque quer encontrar. Se Ele quisesse, poderia robotizar todos os Seus filhos e os programar para adorá-lO, mas Ele não interfere em nosso livre-arbítrio, e espera com paciência que venhamos a adorá-lO verdadeiramente, com nosso espírito, alma e corpo, com toda a nossa força e entendimento. Devemos louvá-lO com inteireza de coração.
A adoração do cristão flui do coração, e não dos lábios. O cristão é um verdadeiro adorador, e se encontra dificuldades neste sentido, pode pedir ajuda ao Espírito Santo, que é ótimo em ensinar o homem.
“Um crente gosta de tocar. Um cristão gosta de tocá-lO. Um crente gosta de cantar. Um cristão gosta de cantá-lO!”
* Não se Assentar com Escarnecedores
Ande com sábios e será sábio! Já dizia Salomão, aconselhando o povo a andar com pessoas que temem ao Senhor. Muitos dizem que andam com escarnecedores para evangelizá-los, mas curiosamente nunca vemos resultados. Pode até ser uma questão de tempo, mas o empirismo me faz crer que na maior parte das vezes, é uma questão de má intenção ou falta de posicionamento.
Muitos vão exaustos a uma rodada de cerveja entre amigos no happy hour, ao barzinho depois da última aula vaga, mas qual é a real intenção destes corações?
(Engraçado que, após um dia exaustivo de trabalho, nunca estão cansados para ir ao Happy Hour, mas sempre estão para ir à igreja.)
Precisamos entender que o cristão não deve se enclausurar, fugindo de tudo e de todos, mas devemos saber como agir, e em quais ambientes pisar. Não são todos os lugares apropriados para alguém que busca a santidade. Não são todas as conversas apropriadas para ouvirmos. Papos maliciosos, julgamentos, provocações, intrigas, inimizades, maledicência. Devemos fugir destes assuntos. Não é uma questão de preconceito, mas de preparo e influência. Quem quer ser médico não busca andar com médicos, para adquirir conhecimentos? Quem quer ser filósofo não se vincula à filósofos, para um melhor desenvolvimento? De igual forma, quem quer ser santo deve andar com pessoas que compartilham o mesmo interesse. Não exclusivamente, mas primordialmente. Podem dizer:
- Ora... Mas Jesus andava com pecadores e prostitutas!
Certamente que sim, mas veja o resultado: Sempre havia cura, salvação, restauração, respeito, bom testemunho. Se você não está preparado para frequentar estes ambientes com a postura transformadora do cristianismo, e é mais suscetível a ser influenciado que influenciar, não os freqüente. Como disse, não devemos nos alienar, e tratar todos os não cristãos como malditos, mas apenas ter sabedoria ao ponto de escolher bem os locais apropriados para freqüentarmos.
“Um crente instável é influído pelo mal, e se apaga perante a escuridão. Um cristão transforma o ambiente em que vive, e ilumina a escuridão com humildade, direcionamento do Espírito e a luz da Palavra.”
* Edificar a Noiva de Cristo
Assim como Jesus amou a sua noiva, dando a própria vida por ela, o cristão autêntico (bom... na verdade não existe “cristão inautêntico”) procura sempre edificar a noiva de cristo, se alegrando com os que se alegram, mas também chorando com os que choram. Ter empatia, simpatia, orar pelos enfermos, interceder, clamar, ajudar, aconselhar, abençoar, visitar, sustentar. Precisamos amar a igreja de Cristo com um amor verdadeiro. Não apenas a instituição, mas a composição dela.
Enquanto instituição, devemos amar a Igreja com o zelo de Jesus, que ao ver impostores denegrindo a imagem do Templo, arregaçou as mangas, e com um zelo consumidor, expulsou todo o mal que havia ali com seu azorrague. Fez uma limpeza no templo, movido pela dedicação e cuidado pela Casa de Deus. Era inadmissível para ele ver tamanho desrespeito com o Templo e com os estrangeiros que deveriam estar naquele local.
Apesar de hoje cada cristão ser o templo do Espírito, a igreja continua sendo a “Casa de Oração”. Um lugar de repouso em meio a guerras, onde estudamos e aprendemos a Palavra. Onde experimentamos a comunhão com os irmãos, festejamos, passamos momentos de crescimento e amadurecimento. Para mim, ela continua sendo a “Casa do Pai”. Um lugar de bênção proporcionado por Deus a nós, mas que muitos crentes hoje dizem que é algo desnecessário, inútil, e que não precisam freqüentar. Bom... Isso provavelmente dará um novo artigo, mas não agora.
De igual forma, devemos amar as pessoas que compõem a igreja. Uma vida é sempre importante, e muitos estão doentes, física, psicológica e espiritualmente, nos bancos das igrejas, sem receber a atenção e o reparo de seus irmãos. Muitos têm buscado ajuda no mundo, pois o templo continua sendo freqüentado por mercadores e trambiqueiros. Não os culpo. Apenas pretendo mostrar que há esperança. Estes têm visto uma igreja empobrecida, letárgica, passiva, e não se levantam como Macabeus, na luta por aquilo que têm. Devemos amar o Corpo e suas partes isoladas. Buscar dons para edificarmos a noiva de Cristo. Quantos têm dito “eis-me aqui” para abençoar não apenas a África, mas também sua igreja regional? Quantos têm se mantido na brecha pelo povo? Quantos têm sido verdadeiros sentinelas em posição de alerta? A igreja precisa de ajuda. Existem muitos carregando cruzes, mas poucos “Simões” para ajudá-los. O diabo tem enchido os templos de hipócritas e “Antíocos”, que têm profanado o altar, mas Deus tem encontrado poucos “Macabeus” para guerrear e purificar a Casa do Senhor. Um crente vai à igreja como vai a uma festa ou reunião qualquer. Um cristão vai à igreja como quem vai à casa amada de seu pai. Um crente tapa os olhos para o apelo dos irmãos, mas o cristão busca almas que precisam de ajuda.
“Um crente vai à igreja. Um cristão a compõe.”
* Corrigir e Repreender os Que Erram
Já dizia Ezequiel sobre as responsabilidades da atalaia:
- Se você ver alguém pecando, vá e o repreenda!
Quantos crentes têm sido omissos quanto ao mal, e até contaminados por ele! A Palavra nos orienta a repreender, admoestar, erguer, argüir os vacilantes, mas pouco temos feito isso.
- Ah... Se eu o admoestar, vai ficar uma situação chata e é capaz de eu perder a amizade dele.
- Ah... Se eu o repreender, pensarão que sou o santão, e vão me deixar de lado.
Pensamentos assim têm desencorajado as outrora atalaias cristãs, que tem como função avisar os desavisados sobre o iminente Dia do Juízo. Todos nós somos vigias, e ai de nós se não exercermos nosso papel. Devemos imitar o apóstolo Paulo, que com autoridade, repreendeu até mesmo Tito e Pedro quando erraram.
Quem avisa amigo é, mas num mundo de omissão e apatia, quem é amigo então? Quando vemos alguém fazendo o mal, já comentamos com 3 ou 4 pessoas, depois julgamos aquele ato como sendo abominável e intolerável, e isolamos o “pecador miserável”, agindo justamente ao contrário de Jesus. Ele, que veio para os doentes, acolhia os pecadores e não aceitava o erro das pessoas sem aconselhar uma mudança.
“- Filha, vá e não peques mais”.
“- Você pecou? Ok! Errou, mas procure mudar, e saiba que ainda assim te amarei.“
“Hoje existem muitos “crentes condenadores” como Satanás, que julgam e acusam sumariamente, mas poucos “cristãos ajudadores” como o Espírito Santo, que buscam salvar almas da condenação eterna.”
* Fazer Tudo Para a Glória de Deus
- Maldito é aquele que fizer a Minha obra relaxadamente.
Quantos de nós temos exercido nossos ministérios, servido na casa de Deus, nos apresentado diante do altar de forma displicente! Muitos exercem cargos sem preparo algum, ensinam de qualquer forma, ministram “louvor” em pecado, querem trabalhos leves e poucos penosos, esquecendo-se de que a cruz é pesada, e que o alívio do Senhor é que nos será leve.
Isso é um grande problema, mas um problema ainda maior é que a necessidade de qualidade e excelência não se restringe às atividades ministeriais, mas abrange compromissos profissionais, familiares, sociais... A Palavra nos diz que devemos fazer todas as coisas como se fosse para o Senhor. Fazer tudo para Sua glória, e sempre conforme nossas forças, ou seja, conforme aquilo que podemos fazer. Se podemos trabalhar bem, devemos fazê-lo. Se pudermos cuidar bem de nossa casa, devemos fazê-lo. Estejamos nós bem ou mal, alegres ou tristes, empregados ou desempregados, diante duma discussão injusta, de uma briga, de uma pessoa ímpia, de um chefe perseguidor, de pais extremamente limitadores... Seja como for, façamos sempre o nosso melhor, para o Senhor, e Sua glória.
“Um crente tem consciência de que muitas vezes pode fazer o melhor, mas opta por não fazê-lo. Um cristão sabe que já não tem essa opção, e mesmo que tivesse, não veria benefício nela.”
* Ser Aperfeiçoado no Sofrimento
O próprio Mestre foi aperfeiçoado em sua natureza humana por meio daquilo que sofreu, mas o crente muitas vezes quer “tirar a limpo” situações “inadmissíveis” com o oleiro que os moldou. Quanta dificuldade em entender que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus. E se O amamos, ao menos deveríamos ter essa segurança, pois com ela, o agradecimento jamais sairia de nosso coração. Em vez disso, o agradecimento raramente entra nele. Tudo é motivo para insatisfação, murmuração, desgosto, protestos, reivindicações. Jesus penou por muito tempo, mas sempre olhava para o Pai. Jesus não tinha onde recostar a cabeça, seus próprios familiares zombavam dele, foi vítima de inúmeras tentativas de assassinato, foi chicoteado, sofreu uma pressão psicológica inimaginável, mas murmurar? Não mesmo! No zênite de sua aflição, seu caráter humano tão somente se sentiu desamparado, mas não reclamou em momento algum.
Não é muito racional se irritar quando se sabe que o melhor para nós está acontecendo. Isto só sucede quando (1) não se entende o desenrolar da coisa, ou (2) não se aceita ou certifica que aquilo seja o melhor. Para os cristãos, há a garantia de que o que sucede deveras é o melhor, e que os planos, por mais ininteligíveis e incompreensíveis que sejam, pela mente humana, são perfeitos, então não há justificativas para o burburinho. Se cremos que a tribulação produz a perseverança, que resulta numa maior experiência fortalecedora da esperança em nossos corações, devemos sempre agradecer por tudo que nos sobrevêm.
Antes de ingressar em Canaã, o povo de Israel passou pelo deserto, e durante aquela peregrinação, ambicionavam tanto chegar à Terra Prometida, que esqueceram que ali, o Senhor queria os ensinar, os unir e moldar, e aquela ambição mórbida pela bênção os fez perder tanto a bênção do aprendizado quanto do galardão.
Se o sofrimento bateu a sua porta, sorria para ele, chore para Deus, mas continue marchando como bom soldado. Você sairá açacalado da fornalha, e nenhum fio de cabelo seu se queimará. Mas creia! Se no meio do processo você reclamar ou duvidar, poderá perder a bênção ou engolir um pouco d’água.
“O crente reclama do problema, murmura contra a fornalha, exige sua saída, protesta contra o calor, e sai da tribulação tão estulto quanto na entrada. O cristão vê o agir de Deus, reflete com a mente de Cristo, glorifica a Deus na prisão e sai das grades louvando, a anunciar as maravilhas do Senhor.”
* Refrear nossa Língua
Outro ponto muito importante, e muito ressaltado na Palavra é a questão de nossas palavras. A Bíblia contém dezenas de versículos que falam sobre os cuidados que temos que ter para domar nossa língua. Provérbios contêm grande parte dessas instruções. O apóstolo Tiago também nos deixou textos importantíssimos e contundentes sobre os riscos de uma boca sem rédeas. Ali, o autor nos diz que aquele que consegue controlar sua língua consegue também dominar todo o resto do corpo, tamanha a avidez e aleivosidade desde pequeno órgão, que como o leme do Titanic, pode afundar todo o nosso esforço e empenho.
Em Efésios, Paulo nos instrui a falar palavras comedidas, respeitosas, isentas de malícia e baixo calão. Salomão afirma que até mesmo o louco se passa por sábio quando fecha um pouco a matraca e ouve mais do que fala. Afirma que saber ouvir é uma dádiva, enquanto o que muito fala provavelmente incidirá no pecado. A mesma boca que muitas vezes canta ou ministra cânticos na casa de Deus, é a que murmura, fofoca, fala palavras indevidas, ou assuntos desapropriados, dá sequência a boatos, ou os inicia, faz mexericos, e por aí vai. Isso é inaceitável! Muitas vezes, quem exagera nos elogios e bajulações tem a língua tão comprida quanto quem difama e denigre. Como diz a Palavra, ou sua boca é santa ou profana; ou é pura ou impura; ou adora ou difama.
Como estamos falando do cristianismo, estamos ligados ao sentido literal dos atos religiosos, que são os atos que nos aproximam de Deus, e Tiago nos afirma que todos estes atos cairão por terra se nossa língua não cair primeiro!
“O crente fala a todo o momento, não se controla, faz votos a torto e à direita, irrefletidamente, e pensa por 2 segundos para falar por 2 minutos. Já o cristão é temperante, controlado pelo Espírito e pela seriedade, tem bom senso, “tempera suas palavras com sal” e reflete por 2 minutos antes de palpitar por 2 segundos.”
* Falar de Deus
Se a boca fala o que preenche o coração, ela é um ótimo mecanismo para medição de nossa vida espiritual. Diria que este mecanismo só é fidedigno na avaliação de nossa própria vida espiritual, mas não na dos demais. Outras pessoas podem ser hipócritas, e falar de Deus enquanto seu coração está longe d'Ele, mas nós podemos medir nosso interesse pelas coisas de Deus de acordo com a quantidade de palavras que saem voluntariamente de nossos lábios, a Seu respeito.
Crentes falam muito sobre futebol, cinema, sobre a vida dos outros, sobre si mesmos, e quando sobra tempo ou quando vêem um cristão, sobre as coisas de Deus. Já os cristãos falam sobre todos os assuntos pertinentes, mas percebem que o prazer em falar sobre Deus supera a todos os demais temas. Não há como esconder isso. Um cristão sente o que sentiu o profeta Jeremias:
- Parece que quando eu paro de falar sobre o Senhor e Sua Palavra, algo queima dentro de mim, e me consome, de forma que não consigo calar meus lábios.
Quando se está apaixonado, só se pensa no alvo de sua paixão, e não há outro assunto consideravelmente relevante a se dizer. Isso claramente demonstra que seu coração está repleto de interesse pela pessoa. O mesmo naturalmente acontece com o cristão. Ele não é a persona non grata da roda, aquele que só fala disso o tempo todo, mas simplesmente tem mais impulso a conversar sobre estes assuntos, e procura pessoas que compartilham deste mesmo interesse. Vamos verificar se há espaço para o Reino de Deus em nossas conversas.
“Um crente fala de Deus para provar que é crente. Um cristão fala de Deus porque é um cristão."
Dentre diversos outros quesitos importantes, optei por analisar estes 23, que podem nos dar uma luz a respeito de nossa verdadeira condição: crentes ou cristãos. Todos estes 23 requisitos acima devem ser encontrados nos cristãos, ou pelo menos buscados por eles.
Temos que compreender que se de fato somos cristãos, estas qualidades serão naturalmente (ou melhor, espiritualmente) afloradas em nossas vidas, e isto não nos será uma opressão. Como disse o Apóstolo do Amor, “os mandamentos do Senhor não são penosos”. Podem ser para nosso velho homem, mas à medida que o mortificamos, estes parâmetros tornam-se extremamente prazerosos e almejáveis, ao ponto de dizermos como Salomão, que “os caminhos do Senhor são uma delícia” para nós. Alguns consideram a obediência a estas práticas como um sinal de fanatismo. Particularmente, acho bem difícil confundir um mínimo grau de comprometimento com fanatismo.
De qualquer forma, não devemos ambicionar a verdadeira vida de cristãos apenas para escapar do inferno, mas sim para sermos aperfeiçoados o dia inteiro, para que, além de algum dia nos encontrar com Cristo no céu, possamos manter diariamente um alto nível de intimidade com o Rei dos Reis aqui na Terra.
É importante ressaltar que o intuito deste texto não é julgar quem será salvo ou não, mediante a questão da Fé X Obras, mas simplesmente expor alguns procedimentos que são (ou deveriam ser) típicos dos cristãos autênticos.
De qualquer forma, penso que há um abismo intransponível - da largura do inferno - entre a vida do simples crente e a do cristão, e os bancos duma igreja não serão seguros o suficiente para impedir os insípidos de despencar naquele vertiginoso precipício.
Como já disse, o Senhor me fez refletir a respeito de minha postura, e concluí que se fosse pesado pela balança do cristianismo autêntico, seria achado em falta.
Muitas pessoas têm enchido igrejas, batido ponto em congressos, e vestido a camisa do cristianismo sobre o peito, para encobrir um coração distante de Deus. Que bom que as misericórdias do Senhor se renovaram ontem, hoje e se renovarão diariamente, até o dia em que nosso Senhor voltar. O problema é “até quando”? Até quando teremos que clamar a Deus por mudanças em nossa vida em vez de clamarmos por almas para a Eternidade? Até quando choraremos diante de Deus, devido a nossa falta de entendimento, comprometimento, ao invés de chorarmos por filhos espirituais? As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, mas não podemos estagnar e permanecer sempre com as mesmas irritantes e superáveis falhas, demonstrando que estamos sendo vencidos ou talvez já escravizados por elas, ao invés de avançar em direção à estatura de varão perfeito.
Eu mesmo já me cansei das muitas vezes que oro pedindo os mesmos pedidos de perdão, carecendo da Graça sobre as mesmas derrotas, por ser corrigido pelos mesmos equívocos, e não ver crescimento e amadurecimento nestas áreas. Preciso mudar! Vou mudar! O Deus Emanuel continua conosco, e nos ajudará até o fim, afinal, fomos criados para sermos conforme a imagem de Seu Filho Jesus Cristo, então o processo que foi iniciado irá até o fim!
O mundo jaz no maligno e as lutas que o Corpo de Cristo tem travado têm sido sempre contra si mesmo, contra suas dificuldades, ao invés de lutar contra o avanço da maldade neste século. Fica fácil um exército vencer um inimigo inoperante, que está sempre focado no próprio umbigo, buscando perfeição em sua comodidade, que se adéqua cada vez mais ao sistema imperante de iniqüidade, em vez de arregaçar as mangas, levantar o estandarte de seu rei e marchar vorazmente contra o inimigo.
Se somos do Exército de Cristo, ajamos como guerreiros, e não como covardes.
Se fomos gerados pelo Espírito, andemos por meio d'Ele, e não segundo a nossa carne.
Se vivemos por Cristo, com Cristo e para Cristo, sejamos cristãos, e não mais meros crentes.
Que Deus nos abençoe! Nós precisaremos disso.
E.F.