ISRAEL - O RELÓGIO DE DEUS?
Por Eduardo Feldberg – 10/08/2010


”Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.” Mateus 24.32-34

Muita discordância tem sido gerada devido às diferentes interpretações destes versículos. Muitos têm extraído daqui, previsões da chamada parousia, e especulado datas para o evento mais esperado pelos cristãos, mas será que foi essa a intenção de Jesus? E, se foi, será que Suas palavras têm sido interpretadas corretamente?

Estes três versículos (e seus paralelos, em Marcos 13.28-30 e Lucas 21.29-32) têm sido base para especulações sobre a data do tão esperado “piscar de olhos”, e muitos têm dito que "Israel é o Relógio de Deus", em virtude destas palavras de Cristo, mas será que é essa a “Lição da Figueira” que Jesus nos quis revelar? Neste artigo, darei meu ponto de vista a respeito.


Muitos cristãos pregam com toda “propriedade e conhecimento”:

- Jesus disse que a geração que contemplar a figueira brotar também verá a vinda do Filho do Homem! Jesus foi claro: A geração que contemplar a figueira brotando será a geração do arrebatamento!


E outros, com base nestas afirmações, conjecturam:

- Israel é simbolizado por uma figueira na Bíblia, então quando Israel renascer, a Volta de Cristo será iminente. Os que virem a nação israelita se reorganizar certamente verão a Volta de Cristo. Como Israel “renasceu” em 1948, e uma geração dura uns 70 anos, o alarido se dará até 2018.


Alguns, menos esperançosos, afirmam:

- Como o velho Matusalém viveu 969 anos, a volta de Cristo se dará entre 1948 e 2917.

Sabemos que, para interpretar trechos bíblicos e extrair seus corretos significados e interpretação, os estudiosos se valem da Hermenêutica Bíblica e suas regras, mas para extrair o significado destas palavras, não vejo necessidade de aplicar tais métodos. A meu ver, uma simples leitura, calma e atenciosa, é o suficiente para captar a idéia deste texto. Como vimos, Jesus disse:

- Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.

Parafraseando o Mestre, escrevo o seguinte:

- Meus queridos discípulos, vocês querem saber quando Eu voltarei? Está bem. Vou dar um exemplo para vocês:

Quando uma árvore começa a dar folhas e frutos, seus galhos se tornam mais fortes e suas folhas esverdeiam, vocês não concluem que o verão está próximo? Vocês já prevêem que o verão está próximo, não é mesmo?! Pois então! Eu não acabei de falar sobre desastres naturais, fome, guerras, terremotos e tudo mais? Assim como o esverdear da árvore mostra que o verão está chegando, estes sinais terríveis evidenciam que a Segunda Vinda está próxima.


Destarte, afirmo que nestes versículos, Jesus:


• Não disse que a Figueira simbolizava Israel!
• Não disse que esta parábola deve ser entendida literalmente (como qualquer outra parábola!)
• Não disse que a geração que visse esse desabrochar veria a Volta de Cristo!



Para esclarecermos um pouco mais, vamos recordar que uma parábola é uma história, uma narração alegórica, que contém ensinamentos. Numa parábola, os objetos, personagens e fatos são fictícios. Jesus usou um exemplo fictício, com uma figueira fictícia, simplesmente como meio de elucidação do assunto. Se Jesus quisesse usar a figueira como símbolo de Israel, não o faria por meio de uma parábola, mas por meio de uma metáfora, ou um símile, mas não foi o caso. Jesus apenas usou o exemplo do esverdear das folhas de uma figueira qualquer - sinal claro da proximidade da troca de estação - para entendermos que o multiplicar dos desastres também demonstrarão a proximidade da Volta de Cristo. Com este exemplo, deu-nos a entender que quando todas estas coisas fossem vistas, o fim estaria próximo.

Outro ponto fundamental para o entendimento destes versículos é reparar que “estas coisas” não são uma referência ao “florescer da figueira” da parábola, afinal, aquela era apenas uma figueira fictícia! Não se vê algo fictício, salvo em nossa imaginação. Seria o mesmo que Jesus dizer: “Vê se encontra o Filho Pródigo por aí...”, ou “Vá tosquiar a Centésima Ovelha”! A figueira era fictícia, então não há como visualizar seu florescimento. Quando Jesus disse “ver estas coisas”, estava se referindo aos sinais que falara anteriormente, como os terremotos, guerras, fome, afinal, as palavras referentes à figueira já haviam se encerrado!


A parábola da figueira durou apenas um versículo (o versículo 32), e isso é perceptível, pois no versículo 33, ele já não está mais discorrendo a parábola, mas sim discursando diretamente com seus ouvintes, com suas próprias palavras e conclusões.

A parábola já havia se encerrado, e Jesus trouxe à luz novamente o discurso que começara no verso 2, portanto, voltou a falar dos desastres naturais, e não da figueira. Ou seja, Ele quis dizer:


- Quando virem estes terremotos, fome, guerras, saibam que o fim está próximo!


E não:


- Quando virem a figueira brotar, saibam que o fim está próximo.


Além de interpretarem erroneamente estes versículos, estes prognosticadores dizem coisas que sequer estão inclusas no texto. Em momento algum, Jesus disse que quem visse a figueira brotar (mesmo se estivesse se referindo a Israel) veria o arrebatamento.

Além do mais, a palavra “geração” ali empregada é uma palavra polissêmica, ou seja, tem diversos sentidos, além do que conhecemos atualmente. O versículo pode também ser traduzido das seguintes formas:


1) “... A geração que vir estas coisas acontecerem não passará...”;
2) “... Esta geração que está me ouvindo não passará....”; (veja o versículo na NTLH)
3) “... A raça de vocês não passará até que...”.


A meu ver, uma interpretação plausível do versículo 34 é a de que “o povo judeu não seria extinto até que todas aquelas coisas acontecessem”, ou seja, até o arrebatamento, o povo judeu ainda existiria, ao contrário de muitos povos antigos que já não existem, organizadamente.


Outra coisa: Se Jesus acabara de dizer que não sabia o dia nem a hora em que Ele voltaria para nos buscar, como poderia prever que viria logo após o renascimento de Israel? Seria o mesmo que alguém dizer:


- Eu não faço idéia de quando voltarei para te buscar, Joãozinho. Só meu pai sabe. Não adianta você me perguntar isso agora, pois no momento não tenho esta informação, mas, sabe de uma coisa? Se prepare, porque certamente eu voltarei entre 16h30 e 16h45.


Isto parece contraditório. Se em dado momento, eu desconheço um fato, como poderia neste mesmo instante dar dicas sobre este fato desconhecido? O que Jesus previu é aquilo que é mais óbvio, ou seja, que Ele voltará quando a situação estiver praticamente insustentável e insuportável.


A última expectativa de vida descrita na Bíblia foi a de Moisés, no Salmo 90, estimando os dias do homem em aproximados 70 anos, porém, estudiosos bíblicos (como Champlin, um dos meus preferidos) crêem que a duração de uma geração, na Bíblia, é de 40 anos. Se naquele momento, naquela situação, Jesus, em Seu “esvaziamento divino”, não fazia idéia de quando seria Seu retorno, como poderia enquadrar este acontecimento entre quarenta anos? (Prazo relativamente curto, imersos numa era cristã tão longa.)


De qualquer forma, pode-se notar que, segundo as estatísticas que reputam uma geração como um período de quarenta anos (a estimativa mais aceita pelos estudiosos bíblicos), a previsão já falhou, pois nesta previsão, o retorno do Rei deveria ter acontecido até 1988, há 22 anos. Desta forma, posso afirmar ironicamente que a "bateria do Relógio Israel" acabou antes da hora!


Jesus apenas previu que voltaria assim que as coisas estivessem realmente terríveis e insuportáveis.


Além disso, se as palavras de Cristo quiseram dizer realmente que Ele só voltaria durante a geração que visse o renascimento de Israel, todos os cristãos dos anos 70 d.C. a 1948 d.C. não teriam a menor esperança de ser a geração do arrebatamento, pois durante toda a sua vida, não viram o povo de Israel renascer. Pelo contrário, o viu morrer e ser maltratado e humilhado. E a despeito disso, creio que todas as gerações desde o início da Era Cristã pensaram ser a última.


Como já disse, entendo que Jesus apenas previu que voltaria quando as coisas estivessem realmente insuportáveis. Ademais, estes sinais que se multiplicariam foram sinais que se multiplicaram em todas as gerações da era cristã, ou seja, Jesus não permitiu que ninguém tivesse um parâmetro infalível para calcular Seu regresso. Se a Palavra diz que o retorno do Rei se dará num momento em que ninguém sequer imagina (assim como a vinda de um ladrão), como poderíamos limitar o período de possível retorno num ínterim de quarenta anos? Ou de mais oito anos, a partir de 2010? A Bíblia nos fala em Mateus 24.37-39 e em I Tessalonicenses 5.2 que a volta de Cristo será como a inesperada “visita” de um ladrão, ou como o Dilúvio, que surgiu repentinamente. Mas, se crermos que Jesus voltará entre o ano X e o ano Y, seria o mesmo que alguém dizer:



- Ah... Pode ficar tranqüilo. Nós ainda estamos no ano de 1256, e o ladrão só virá nos roubar quando estes judeus dispersos se firmarem novamente, e pelo visto, isto está longe de acontecer. Temos uma grande noção do possível período de assalto do ladrão, então podemos ficar tranqüilos, e nos prepararmos somente quando estivermos mais próximo do roubo.


Ou então:

- Ah, Noé! Vai construindo a Arca aí, enquanto descansamos, afinal, o dilúvio só virá quando acontecer “isso e aquilo”. Vamos continuar bebendo, nos casando, nos dando em casamento e vivendo nossa vida. Quando repararmos nestes sinais tão específicos, nos prepararemos melhor, afinal, temos uma grande noção de quando se dará o dilúvio. Só após ”isso e aquilo” acontecer. E pelo visto, isso só acontecerá daqui a muitas gerações.


Todos os cristãos teriam uma grande noção de quando o “ladrão atacaria”, ou quando o “dilúvio viria”, conforme as analogias de Jesus e do apóstolo Paulo.


Agora, algumas considerações finais mais subjetivas. Muitos dizem:

- Estamos no ápice da maldade, destruição e desastres naturais!


Mas será que os nossos tempos estão sendo os mais insuportáveis? Eu discordo. Apesar de desastres naturais sempre terem se multiplicado e avultado nos meandros dos séculos, creio que viver nos dias de hoje não é mais difícil que na “Idade das Trevas”, com pestes eliminando uma em cada três pessoas, cristãos sendo perseguidos diariamente e utilizados como tochas humanas em vias públicas, a igreja totalmente corrompida e alheia à Palavra de Deus, além de guerras constantes entre os povos e nações. Os tempos estão ruins, mas creio que não tão ruins quanto já foram. A crueldade do homem é grande, mas não tão grande quanto no passado.


Acho complicado tentar prever a volta de Cristo com base nas dificuldades dos tempos presentes.


Como já disse, entendo nas palavras de Jesus que a volta se dará quando os tempos estiverem deveras insuportáveis.

Para mim, abençoado ocidental, as coisas ainda não estão insuportáveis. Para outros, escondidos em igrejas subterrâneas, a situação pode estar bem ruim, mas em escala incidente bem menor que outrora.


O número de terremotos sempre aumentou entre uma geração e outra. A ciência obviamente sempre avançou entre uma geração e outra. A fome mundial já foi maior do que atualmente. As doenças e a malignidade do homem também tiveram seu acme traçado em tempos mais antigos que os atuais.


Enfim... Espero que Jesus volte logo, e embora torça e, no fundo, creia que farei parte da geração do arrebatamento, não vejo parâmetros bem estabelecidos para fundamentar este pressentimento. Pelo menos não nestes versículos.


Devemos ter cuidado para não cair no erro dos fariseus, e do catolicismo, que sobrepujaram a Palavra de Deus com uma Tradição Oral. Eu mesmo afirmei para muitos, e até escrevi neste blog, há algum tempo, que o retorno do Rei se daria até 2018, baseando-me nas palavras de teólogos que pregam erroneamente a “Lição da Figueira”. Ouvi, cri, mas não fui como os bereanos (At 17.11), que conferiam tudo na Palavra. No dia que resolvi ler com calma estes versículos, notei que não tinha base para a idéia que havia adotado por meio do “telefone-sem-fio” tão comum entre as pessoas.


Jesus não deixou nestes versículos nenhuma resposta clara e limitativa, a não ser a afirmação de que, exceto o Senhor, ninguém sabe quando se dará o grande retorno, e advertiu-nos que, assim como prevemos algumas coisas olhando a natureza, podemos prever o retorno do Senhor quando os tempos estiverem realmente ruins e insuportáveis.


E.F.