LOUVOR OU CÂNTICO ESPIRITUAL?
Por Eduardo Feldberg - 30/11/2010


Enfim, consegui tempo para escrever mais um artigo. Dessa vez, sobre uma questão antiga que costumava dialogar com meu amigo Daniel.
.

Atualmente, numa igreja, ou reunião religiosa, ouvimos diversos tipos de músicas, mas será que estas músicas são voltadas para o Senhor, ou têm sido músicas voltadas para o entretenimento, satisfação ou ministração exclusivas do homem? Será que podemos realmente chamá-las de “louvores”, e que temos realmente louvado ao Senhor, num culto que pelo menos deveria ser voltado para Ele?

Com o antropocentrismo surgido no Renascimento, o homem passou a ser o centro das atenções, e com o passar do tempo, esta visão permeou (ou melhor, contaminou) a Igreja, que deixou Deus um pouco de lado, e passou a buscar prioritariamente seus próprios interesses. Algo parecido com o egocentrismo, onde todos querem sempre o bem para si, em vez de buscar a exaltação e glorificação do outro – no nosso caso, Deus. Atualmente, vemos que em muitas igrejas, a liturgia se dá da seguinte forma:

• Abre-se o culto com uma oração, pedindo a bênção do Senhor;
.
• Inicia-se um período de avisos de 30 minutos, com informações para atualizar os membros da igreja;
.
• Prega-se uma palavra totalmente voltada para o homem, com temas triunfalistas, humanistas;
.
• Encerra-se o culto com outra oração, clamando a Deus por suas bênçãos sobre todos, durante a semana.
.

Ou seja, aquilo que deveria ser um culto (momento para se cultuar) a Deus, acaba se tornando uma série de procedimentos para satisfazer os desejos do homem. O problema é que até mesmo o momento de louvor (que deveria ser para Deus), está sendo adaptado, visando satisfazer o homem. Ou seja:

• As orações não são pedindo a glorificação de Deus, mas sim a do homem;
.
• A pregação visa alegrar os presentes no culto, ao invés de produzir neles frutos dignos de arrependimento, e mudança de vida que visem à glorificação do Senhor;
.
• O “louvor” é na verdade uma série de músicas voltadas para o homem - com raras aparições do Senhor, em terceira pessoa - com teor de animação ou valorização do homem, com frases como “você vai vencer”, “me abençoe Senhor”, “eu quero isto e aquilo”, e outros que visam satisfazer os desejos do homem, e mascarar um cristianismo do tipo “dá, dá”. (Prov. 30.15)
.

Há alguns anos, eu, mero mortal, pecador miserável, carente da graça de Deus, comecei a reparar que poucos momentos do culto estavam realmente sendo voltados para Deus, para Sua glorificação, em muitas igrejas, e cheguei ao meu limite de desgosto quando vi que até mesmo o louvor (momento que sempre mais gostei) também estava sendo substituído por cânticos para o homem, e... Isso é inadmissível!

Num culto, comumente ouvimos os seguintes tipos de músicas:

1) Louvores Diretos - São as músicas em que nós falamos diretamente com o Senhor, em primeira pessoa (Tu és...) e O elogiamos por Seus atos e feitos.

Exemplo 1: “Te amo, oh Deus, e com minha voz te adorarei, oh meu Deus...”
Exemplo 2: “Digno, Tu és digno, Jesus, filho de Deus. Tu és adorado neste lugar...”

2) Louvores Indiretos - São as músicas que falam sobre Deus, citando-O em terceira pessoa (Ele é...), em que Ele é elogiado por Seus atos e feitos.

Exemplo 1: “Celebrai a Cristo, celebrai. Ressuscitou, ressuscitou, e Ele vive para sempre...”
Exemplo 2: “Aclame ao Senhor toda a terra e cantemos poder majestade e louvores ao Rei...”

3) Ministrações Cantadas - São aquelas músicas em que nós somos o alvo da letra, e que devemos ouvir e sermos ministrados.

Exemplo 1: “É meu somente meu todo o trabalho, e o teu trabalho é descansar em mim...”
Exemplo 2: “Vem, filho amado, vem em meus braços descansar...”

4) Orações Cantadas - São aquelas músicas em que expressamos nossos desejos, anseios, e expomos nossos pedidos ao Senhor. Como se fosse uma oração cantada, por algo que precisamos ou queremos.

Exemplo 1: “Vem visita Tua igreja, oh bendito Salvador...”
Exemplo 2: “Abençoa-me Senhor, e aumenta as minhas terras. Seja comigo a Tua mão, livrando-me de todo mal. Amém.”

5) Declarações de Fé e da Palavra - São aquelas músicas onde declaramos as promessas de Deus para nossa vida, visando nos edificar, ou fortalecer nossa fé. Orações onde tomamos posse da Palavra do Senhor.

Exemplo 1: “Ele vem, a trombeta soará. Claro como o Sol, nas nuvens voltará...”
Exemplo 2: “Desde a antiguidade ainda não se viu, ainda não se ouviu de um Deus que trabalhe por aqueles que n’Ele esperam...”

6) Músicas Evangelísticas - São aquelas músicas em que o alvo da letra é o ímpio, o incrédulo, aquele que ainda não conhece ao Senhor, e que precisa ouvir sobre o Evangelho.

Exemplo 1: “Vem pra Jesus, vem pra Jesus...”
Exemplo 2: “Sei que você não o conhece, mas eu quero lhe falar: Jesus te ama tanto e só quer te ajudar. Deixa tudo então vem, deixa tudo e então vem com Jesus.”

Além destes seis, existem outros tipos de músicas entoadas numa igreja, mas estes são os principais tipos, e, como vemos, há nesta relação músicas voltadas para Deus, músicas voltadas para os cristãos e músicas voltadas para os não-convertidos, então obviamente, nem todas estas músicas são um “louvor”.

Segundo o dicionário Michaelis, louvar é:

“Dirigir louvores a; elogiar; bendizer; exaltar...”

Ou seja, um louvor é um ato de elogiar alguém, e não o de pedir algo, ou o de instruir algo a alguém. Sendo assim, um louvor em forma de música deve conter palavras de elogio, exaltação a alguém. Se uma música entoada não contém estas palavras, trata-se de outro tipo de música, que não um louvor. Já um cântico espiritual engloba as diversas músicas que se entoa numa igreja, como os seis exemplos que mencionei acima.

Desta forma, podemos dizer que todo louvor é um cântico espiritual, mas nem todo cântico espiritual é um louvor, pois há diversos cânticos espirituais que podem sequer mencionar o nome de Deus, mas ser de cunho instrutivo, edificante, ministrativo, etc...

O que me deixa perplexo é ver a extinção das músicas de louvor a Deus num culto, e ainda pior, ver a falta de conhecimento de ministros, que não percebem que não estão cantando para Deus, e ministram como se tivessem!

Já ouvi ministrações “estranhas”, como:

- Amado... Louve ao Senhor: “Vem filho amado, vem em meus braços descansar...”

- Irmão, adore ao Senhor... Louve-o dizendo: “Abençoa-me Senhor, e aumenta as minhas terras...”

Ministrações sem sentido, que dizem para “louvarmos” quando na verdade, o teor das músicas não é de louvor. Louvar é elogiar, e se o culto é para o Senhor, é Ele quem deve ser elogiado!

É claro que estes outros tipos de cânticos são importantes, e eu mesmo amo diversas destas músicas, mas o problema é que no momento de louvor, estes cânticos espirituais estão tomando totalmente o lugar dos louvores. Deus não é mais elogiado! Deus apenas ouve nossos pedidos, nossas afirmações, nossas cobranças de promessas que Ele fez, mas não nos ouve mais dizer “Tu és Santo, Senhor!”, ou “Eu te amo, oh Deus”.

Imagine que num culto, devamos fazer uma linda serenata para o nosso Deus, dizendo o quanto O amamos, e o quanto Ele é importante, Santo, Puro, Maravilhoso para nós. Mas hoje, não temos tido muito tempo de elogiá-lo. Temos tido tempo para cantar, mas não para cantá-lO. Temos tido tempo demais para tocar, mas não o bastante para tocá-lO. Isso é triste. Ainda mais triste é refletir:

Por que não O temos mais adorado?
Por que não temos mais dito o quanto O amamos?

Imagine uma serenata para um grande amor, mas em vez de dizer o quanto você o (a) ama, apenas cobra promessas, reivindica bênçãos, diz palavras sobre você mesmo! Perderia todo o sentido. Com o louvor, é a mesma coisa: Não é louvor se você não elogia o alvo do seu grande amor.

Ouço músicas antigas, como a música “Te Amo”, do Marcos Witt, que me fazem cantar sorrindo, por saber que Ele está sorrindo, e percebo como os tempos estão mudando, e como estamos perdendo o foco da verdadeira adoração.

Muitos ministros de louvor não entendem que o momento de culto serve para cultuar, e não para exigir, ou que o momento de louvor serve para louvar, e não para evangelizar. É comum ouvir músicas de evangelismo dentro da igreja, e músicas de louvor sendo cantadas para ímpios que não conhecem o Senhor, e isso não deve acontecer. Pelo menos não é o mais comum.

Se vamos à igreja, nosso objetivo primaz deve ser cultuar ao Senhor, e não sermos abençoados. Penso que a qualidade de um culto não pode ser medida, pois a medição deve ser feita conforme a satisfação de Deus, com relação ao culto, e não conforme o grau de satisfação dos presentes.

É um pouco complicado falar sobre isto, mas Deus deixou claríssimo em Sua Palavra que “é melhor dar do que receber”, ou seja, um culto deve ser qualificado como bom, à medida que oferecemos muito ao Senhor, e não a medida que recebemos muito. Há cultos em que saímos nos sentindo excelentes, e pensamos que foi um excelente culto, mas na verdade, os melhores cultos são os que Deus sai satisfeito, e que nós saímos nos sentindo minúsculos, como Isaías, quando viu o Senhor, ou como Jeremias, quando se encontrou com o Rei dos reis.

Atualmente não queremos dar, doar, nos entregar ao Senhor. Queremos é pedir mais e mais... E mais... E mais. Talvez seja por isso que a igreja tem vivido um período de frieza tão incômodo, a começar por mim. Hoje, se vai ao culto para ouvir uma palavra de ânimo e conforto, receber orações de “poder”, cantar cânticos para sermos abençoados, e se esquece que um culto é um momento para cultuação do Senhor. Na verdade, o sentido da palavra "culto" se vulgarizou, tornando-se sinônimo de “reunião”, e perdeu seu verdadeiro significado.

Um culto ao Senhor é um momento em que cultuamos o Senhor, e se quisermos receber, se quisermos algo mais de Deus, precisamos nutrir uma vida de intimidade com o Pai. Se nos achegarmos a Ele, Ele se achegará a nós, mas deve ser lastimável ter um filho que vem sempre com as mãos vazias, exigindo que sejam presenteadas!

Outra coisa que um tanto corriqueira é cantar músicas ao Senhor, citando-O em terceira pessoa. Particularmente, acho um costume um pouco desagradável, pois se temos livre acesso a Deus, é muito mais prazeroso falarmos diretamente com Ele, dizendo “Tu és Santo” do que falarmos sobre Ele, dizendo “Ele é Santo”. Quando utilizamos a terceira pessoa do singular para elogiar o Senhor, não soa algo tão íntimo, tão pessoal, mas isso é um pouco mais sugestivo.

Presenciei há alguns meses um culto onde o ministro de “louvor” conduziu o “louvor” e levou a igreja a “louvar” com três cânticos. Absolutamente nenhum dos três fazia qualquer menção da bondade, do amor, da beleza, da santidade ou qualquer outro maravilhoso atributo do nosso Deus. Simplesmente eram cânticos que pediam bênçãos, que afirmavam promessas, como quem diz “Deus, o Senhor prometeu, então me dá!”, ou músicas de ministração, como aquelas em que Deus fala conosco, e na verdade a igreja deveria ouvir, ao invés de cantar. E o pior é que naquele dia, eu estava com uma vontade muito forte (e infelizmente fora do comum) de me entregar a Deus, e de adorá-lO com o meu melhor... Fiquei tão desgostoso por ver que não houve nenhum “louvor” ao meu Senhor. Miserável homem que sou. Isso não deveria ser um empecilho para mim!

Talvez os louvores não dêem tanto ibope. Talvez não atraia tanto os membros, ou não os entretenha. Que chato isso. Há algum tempo, refleti que “quem pula cantando e sorrindo também deve saber se ajoelhar adorando e chorando”, mas as atuais circunstâncias demonstram que poucos concordam comigo.

Todos os tipos de cânticos espirituais são importantes, e muitíssimo válidos, mas o que é necessário é haver um discernimento de que tipo de música entoar em cada momento.

• Tratando-se de um culto ao Senhor, o ideal é ministrar louvores a Ele, afinal, o alvo do culto é Ele, e não o homem.
.
• Tratando-se de uma reunião evangelística, o ideal é ministrar cânticos evangelísticos, afinal, o escopo da reunião é evangelizar pessoas.
.
• Se o objetivo do ministro em determinado momento é fortalecer a fé dos irmãos em Cristo, deve-se cantar cânticos de fortalecimento da fé, por meio de confissão da Palavra.
.
• Se o objetivo é ministrar o coração das pessoas, deve-se orientar aos presentes que se sentem, ou que simplesmente fechem seus olhos e ouçam, afinal, eles estarão sendo ministrados, portanto não devem cantar, mas sim “receber”. Se elas quiserem cantar, que cantem, mas jamais se deve dizer a elas que “louvem”, afinal, a música é para elas, e não para Deus! Pode redundar em glória ao Senhor, mas o alvo da música é o homem, e não o Senhor.
.

Enfim... Há diversos tipos de cânticos espirituais, mas o ruim é que atualmente, se ouve pouco louvor, na hora do louvor, e muito dos outros tipos de cânticos, enquanto o foco, que é adorar ao Senhor está se esvaindo, sendo deixado para trás. Vou finalizando por aqui, para não ser redundante, mas só expresso mais uma vez meu apelo:

Que num culto ao Senhor, Ele seja mencionado, mais que o homem.
Que Ele seja louvado, mais que o homem.
Que o coração d’Ele seja preenchido com palavras de amor, mais que o coração do homem.
Que Ele seja o alvo das atenções, mais que o homem.


Se nosso coração for tocado, que seja uma conseqüência do nosso louvor, da nossa entrega, do nosso dar, e não de nosso egoísmo e recusa em oferecer a Deus um culto.


Quando percebermos estas verdades, passaremos a conhecer melhor o nosso Deus, e teremos Suas bênçãos correndo atrás de nós, sendo entregues antes mesmo de pedirmos.

"Bendirei ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará em meus lábios continuamente. No Senhor a minha alma se gloria. Ouçam-no os mansos e se alegrem. Engrandeçam ao Senhor comigo, e juntos exaltemos o seu nome." Salmos 34.1-3

LINDO JESUS
QUE TU SEJAS SEMPRE O ALVO DA MINHA ADORAÇÃO!

E.F.