Desde a classinha de 7 e 8 anos da Escola Bíblica Dominical, eu e meus colegas de classe já éramos corrigidos por nossas falhas infantis, com a admoestação:
- Não importa o seu erro! Não existe “pecadinho” e “pecadão”. Tudo que é errado é pecado.
E eu, com minha mentalidade infantil, entendendo que não havia pecados pequenos e pecados grandes, cria que tanto assassinar uma pessoa, quanto “colher” uma uva na feira (algo que fazia com certa freqüência) era exatamente a mesma coisa, e eu seria a mais desgraçada das crianças, se cometesse tal delito. Imaginava que eu e Adolf Hitler, por exemplo, estaríamos no mesmo patamar condenatório, se eu caísse na desgraça de murmurar contra meu chato professor, enquanto aquele ordenava genocídios.
Com o tempo, passei a entender que na verdade, apesar de “todos os pecados serem pecado”, existem sim pecados menores e pecados maiores, em diferentes escalas ou intensidades.
Hoje, com base bíblica, posso dizer que existe certa gradação entre os pecados, e isso se nota pelo grau de consequência de cada tipo de pecado.
Considerando-se que o pecado é toda ação ou pensamento que eu faço que desagrada a Deus, vemos na Palavra que há pecados involuntários, pecados totalmente premeditados, pecados imperdoáveis ¹ e pecados perdoáveis. Alguns são “imperceptíveis”, outros totalmente evidentes. Alguns são pecados “para morte”, outros não são para tanto. Existem pecados que Deus odeia, e existem pecados que Deus odeia com uma maior intensidade.
Vamos analisar alguns versículos bíblicos que dão a entender que, apesar de todo pecado ser pecado, existem pecados mais inadmissíveis que outros, digamos assim. São alguns deles:
Pecados por Fraqueza: Estes pecados são os pecados cometidos, mas não de forma rebelde, mas sim por uma fraqueza, um momento de descuido. Penso que são os pecados mais leves, por terem sido os erros e falhas cujo praticante tentou evitar. Apesar de nenhuma tentação ser maior do que podemos suportar, diariamente pecamos por não irmos até esse limite, e cedermos diante de tentações, porém não sem esforço. Paulo, por exemplo, dizia que pecava, mesmo sem querer pecar. (Romanos 7.19 - "Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.") Ele se esforçava para fazer o bem, mas constantemente realizava o mal que tanto evitava. Particularmente, creio que grande parte do problema não está no ato de pecar, mas sim em não ser feito o máximo esforço para se evitar a queda, afinal, todos nós somos pecadores. O que precisamos é confiar em Deus e nos esforçarmos naquilo que podemos, ou seja, em evitar o pecado, em alienar o mal e muitas vezes fugir da tentação.
Pecados Ocultos: Muitas vezes, por vivermos num mundo de mudanças constantes, ou por falta de leitura bíblica, cometemos pecados que sequer são de nosso conhecimento, ou pecados que cometemos há muito tempo, e não nos lembramos mais. Algumas vezes, quebramos mandamentos de forma “imperceptível” a nossos olhos. É por isso que o salmista pediu perdão até mesmo pelos pecados que estavam ocultos dentro de si. (Salmos 19.12 - "Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço.")
Pecados Abomináveis: Salomão nos informa em Provérbios 6.16 ("Estas seis coisas, o Senhor odeia, mas a sétima, Ele abomina.") que Deus odeia muitos pecados, mas outros são totalmente abomináveis. Nos versículos seguintes, o autor informa uma série de pecados que Deus odeia, e no final da lista, inclui uma atitude que Ele não apenas odeia, mas abomina, que é o de criar divisão entre os irmãos.
(Obs. Segundo alguns tradutores e hebraístas, as palavras “seis coisas o Senhor odeia, e a sétima, sua alma abomina”, deste versículo 16 formam na verdade uma forma de construção literal hebraica, então possivelmente esta interpretação que passei neste item possa ser descartada.)
Pecados Muito Grandes: Em alguns versículos, lemos sobre a incidência de não apenas um “pecado”, mas de um “pecado muito grande”, como confessa o salmista em Salmos 25.11 ("Por amor do eu nome, Senhor, perdoa o meu pecado, que é tão grande."). Moisés também acusa os israelitas de cometerem um “pecado mui grande”, ao construírem um bezerro de ouro, em Êxodo 32.31 ("Assim, Moisés voltou-se para o Senhor e disse: Ah, que grande pecado cometeu este povo! Fizeram para si um deus de ouro."). Não se tratava apenas de um “pecado”, como o de reclamar da fome que estão passando, mas de um pecado ainda maior, que é o da idolatria e adoração de imagens, abandonando o Senhor.
Pecados Maiores que Outros: Conforme relatado pelo Apóstolo do Amor, em João 19.11, Jesus acusou Judas de cometer um “pecado pior” que o de Pilatos. Ou seja, Pilatos havia pecado, bem como Judas, mas a transgressão de Judas foi maior que a de Pilatos. ("Jesus respondeu: Não terias nenhuma autoridade, se esta não te fosse dada de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado maior.")
Pecados Graves: Após Davi ordenar o recenseamento dos soldados sob seu comando, admitiu ter “pecado gravemente” contra o Senhor. (1 Crônicas 21.8 - "Então disse Davi a Deus: Pequei gravemente com o que fiz...")
Pecados Premeditados: São os pecados em que a pessoa pensa, planeja, calcula e o comete. Pecados em que não há esforço contrário, visando evitá-lo. A pessoa está alheia às conseqüências de seus atos iníquos, e os pratica decididamente, como no caso de Hofni e Finéias, filhos de Eli, que roubavam as ofertas dedicadas ao Senhor, dia após dia. (1 Samuel 2.17 - "Era pois o pecado destes jovens muito grande, perante o Senhor...")
Pecados para Morte: O apóstolo João escreve em sua primeira carta que há pecados que são para morte. (1 João 5.16 - "... Há pecado que é para morte, mas por este, digo que não ore.") Este é um texto de interpretação controversa, e não é aconselhável deduzir quais seriam estes pecados. De qualquer forma, é consensual que estes pecados são cometidos deliberadamente, conscientemente e continuadamente. Pecados que trazem morte espiritual (pois não são lavados pelo sangue de Cristo, por falta de confissão), morte física, e ulteriormente, levam à perdição eterna.
Pecado Imperdoável: A blasfêmia contra o Espírito Santo é o pior pecado que alguém pode cometer, pois este é um pecado irreversivelmente imperdoável. (Marcos 3.29 - "Mas quem blasfemar contra o Espírito nunca terá perdão...") Em sua ocorrência, não há liberação de perdão posterior.
Enfim... O que quero mostrar é que, apesar de toda transgressão ser um pecado, existem transgressões maiores e menores. Não devemos considerar como equivalentes, pecados muito mais cruéis que outros. Por exemplo, Davi pecou muitas vezes. Algumas vezes, pecava em coisas relativamente pequenas, como “não corrigir seus filhos”. Digo “relativamente pequenas”, pois considero este pecado um pecado bem menor que o pecado cometido anteriormente, pelo Rei Davi, quando cobiçou a mulher do seu próximo, adulterou, enganou e assassinou um homem. Para mim, este é um dos piores pecados vistos na Palavra! Embora ambos sejam pecados, não estão numa mesma escala de crueldade.
Este assunto talvez seja meio óbvio para alguns, mas não tanto para outros, pois já vi muitas pessoas dizerem que não há diferença entre os pecados, por não haver “pecadinho e pecadão”, e isso me estimulou a escrever este artigo.
Agora, o mais importante é crermos que, se pecarmos, temos o sangue de Cristo para nos lavar e purificar de toda iniqüidade. E, se você pecou contra o Espírito Santo, não se preocupe: você não terá essa preocupação.
¹ Escrevi “pecados imperdoáveis” no plural, pois além da blasfêmia contra o Espírito Santo, qualquer outro pecado será imperdoável, se não perdoarmos aqueles que nos ofendem!
E.F.