VERSÕES DAS ESCRITURAS
Eduardo Feldberg - 06/04/2005



Um breve estudo sobre a origem das versões e traduções bíblicas.




Há algum tempo, tive a curiosidade de estudar sobre o tão célebre João Ferreira de Almeida. Neste estudo, fiquei curioso a respeito das outras traduções bíblicas para o português, e este estudo, por sua vez, me fez conhecer um pouco mais sobre cada tradução e versão bíblica de outros idiomas.


Estudei um pouco a respeito, e compilei alguma informação sobre as principais versões bíblicas dos principais idiomas. E cheguei a este resultado. Não é nenhum estudo pormenorizado, mas simplesmente uma relação com as principais traduções bíblicas em cada idioma. Alguns com informações extra, outros não.


Calcula-se que circulam pelo mundo traduções da Bíblia ou partes dela em mais de 1232 línguas. Abaixo vemos algumas das versões e traduções mais usadas (sujeitas a discrepâncias por parte da fonte da informação)



As Escrituras foram manuscritas originalmente por meio de papiros e pergaminhos. Há milhares de mss acerca delas. Esses documentos divergem entre si quanto à escrita, ortografia, contexto, etc...As primeiras traduções basearam-se nestes documentos, portanto, é comum encontrarmos pequenas divergências entre uma versão e outra.




VERSÃO SAMARITANA:

Samaria, antiga capital do território que compreendia as 10 tribos. A versão original, compreendia apenas o “Pentateuco Samaritano”. Não se deve confundir o Antigo Pentateuco Samaritano com a versão samaritana moderna.




VERSÃO GREGA:

A tradução do A.T. do hebraico para o grego é denominada “Septuaginta”. Conforme dizem, a tradução foi preparada num espaço de 72 dias por um grupo de 72 anciões sábios judeus, escolhidos por Ptolomeu II – designação dada a 16 reis do Egito – em Alexandria, 270 A.C. Daí o nome Septuaginta, que do latim significa setenta (LXX). Era a Bíblia, nos tempos de Cristo. À priori, foi feita especificamente para os judeus que habitavam Alexandria – Egito – e que falavam grego, devido ao helenismo, movimento dominante da época.


VERSÃO LATINA:

Latina > Latim > Língua dos romanos e língua oficial dos países dominados por eles.
O N.T. foi escrito em grego, manuscrito principalmente em papiros ou pergaminhos. Há mais de 5.000 manuscritos gregos acerca do N.T. e dentre estes, muitos foram traduzidos para o latim. As duas versões principais em latim são:




  • Latim Antigo: escrita a partir de 150 d.C. Ela se dividiu em 3 categorias: A Africana, a Européia e a Italiana (a italiana foi uma revisão das duas anteriores).

  • Vulgata: Em cerca de 382 d.C., o papa Damaso confiou a seu assistente Jerônimo a tarefa de produzir uma versão latina autorizada a fim de eliminar a confusão que surgira naquele idioma com respeito aos mss do N.T. Jerônimo (para os católicos, “São Jerônimo”), utilizando vários antigos mss gregos e latinos, incumbiu-se de pôr em ordem a versão latina. Essa compilação recebeu o nome de “Vulgata”, que significa “comum” (do latim, “vulgare”, que significa “tornar comum”). A Vulgata foi a principal versão da Bíblia em latim. Os povos dominados pelo Imp. Romano, que futuramente se tornariam independentes, são considerados latinos pois a início, falavam o latim. A maioria desses povos transcreveu posteriormente uma versão própria para o seu povo, em seu próprio idioma, mas sempre baseada na versão original latina. A Vulgata foi revisada por Clemente VIII, em 1592, e é ainda hoje a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana.


VERSÃO SIRÍACA:


As versões siríacas começaram a surgir em cerca de 250 D.C., um século depois da versão latina. Os eruditos distinguem 4 versões distintas da versão siríaca:
Siríaca Antiga; Peshitto, ou Vulgata Siríaca; Filoxeniana, ou Harcleana; Palestina.



  • Siríaca Antiga: A versão “S.A.” data dos séculos IV ou V d.C., mas não sobreviveu ao passar dos tempos. Hoje, só se acha comentários acerca desta versão.


  • Peshitto: surgiu no fim do séc. IV d.C., a fim de suplantar as versões divergentes e contraditórias do “S.A”. De certa forma, o Peshitto teve a mesma função da Vulgata: Aperfeiçoar sua versão anterior. No Cânon do Peshitto, encontram-se apenas 22 livros, já que II Pe, II e III Jo, Jd e Ap não eram aceitos como livros autorizados na igreja oriental de alguns lugares, senão já em datas posteriores. Há algum tempo, dava-se a autoria desta versão a Rábula, um bispo de Edessa, mas hoje se acredita que este homem deu origem a uma versão não tão perfeita, conhecida como “pré-peshitto”. Uma versão intermediária da Siríaco Antigo e da Peshitto. A versão Peshitto procedeu do original hebraico.


  • Filoxeniana e/ou Harcleana: Originada com Filoxeno, bispo de Mabugue, em 508 d.C., e
    reeditada por Tomás de Harklel, também de Mabugue. Há quem diga que suas versões são, na verdade, distintas, embora o mais provável é que tenha sido feita uma mera compilação, por parte de Harklel. Independentemente disto, foi nesta versão que as epístolas menores e o Apocalipse (até então rejeitados) foram adicionados ao cânon das igrejas sírias.


  • Palestina: Datada do séc. V d. C., temos pouca informação a respeito dela.


VERSÃO CALDAICA:

Os “Targuns” são traduções ou paráfrases do A.T., feitas para os judeus que voltaram do exílio babilônico e que já não entendiam o idioma de seus antepassados.


VERSÃO ETÍOPE:

O cristianismo entrou na Etiópia pelos esforços de dois escravos: Frumentio e Edésio de Tiro, enviados ao rei, no séc. IV d.C.. Atribui-se a versão etíope aos primeiros missionários.


VERSÃO EGÍPCIA:

Também conhecida como “Versão Cóptica”, a versão mais recente das Escrituras no Egito era escrita inicialmente em hieróglifos. A partir dos “tempos cristãos”, adotou as letras maiúsculas gregas como símbolos. No tocante aos mss do N.T., foi escrita em dois dialetos, dependendo de sua localização geográfica:



  • Saídico, do sul do Egito, datado do séc. III d.C.;


  • Boárico, do norte do Egito, que data do séc IV d.C. em diante.


Dessas duas traduções surgiram diversas outras versões que circulam até hoje.





VERSÃO ÁRABE E PERSA:



Alguns poucos mss têm sido preservados nesses idiomas; a maioria dos eruditos crê que têm pouca importância para a crítica textual do N.T. No tocante aos árabes, os problemas estudados são complexos e continuam sem solução. Foram feitas algumas versões, por escritores diversos, entre os séculos VII e XII d.C..




VERSÃO GÓTICA:



Gótica > Godos> Antigo povo da Germânia, vasta região da Europa, hoje compreendida por Alemanha. Os Godos eram divididos em Ostrogodos (legião do leste) e Visigodos (legião do oeste). A principal versão gótica foi fundamentada na Septuaginta, por Ulfilas, um bispo dos Ostrogodos, cerca de 360 d.C.




VERSÃO ESLAVÔNICA:



Eslavônica > Eslávicos > Eslavos > ramo etnográfico e lingüístico da família Indo-Européia, que se divide em 3 grandes grupos: Eslavos Ocidentais (polacos, tchecos, eslovacos, lusácios); Eslavos Orientais (russos) e Eslavos Meridionais (búlgaros, sérvios, croatas, eslovenos). A versão Eslávica mais influente foi a dos irmãos Cirilo e Metódio, missionários da Bulgária e Morávia (região da Europa Central que forma, hoje em dia, a parte oriental da Rep. Tcheca), escrita na língua Búlgara antiga, em meados do séc. IX d.C..



VERSÃO CHINESA:


Entre os grandes tradutores da Bíblia, a versão de Robert Morrison se destacou na China. Foi feita em cerca de 1800.



VERSÃO INDIANA:



O missionário Guilherme Carey traduziu as Sagradas Escrituras para os indianos e para mais de 30 outras línguas. Calcula-se que esse erudito em idiomas traduziu a Bíblia para cerca de 1/3 da população mundial. Viveu entre 1761 e 1834.



VERSÃO ARMÊNIA:



O idioma armênio tem cerca de 2000 mss catalogados. Das versões existentes, destacam-se as 3 seguintes:






  • Versão de Miesrob, datada do séc. V d.C.. Miesrob (ou Mesrope) foi um soldado que se tornou missionário cristão e a ele é dado o título de originador da versão armênia;


  • Versão Georgiana, datada do séc. VI d.C.;


  • Versão de Zohrab, datada de cerca de 1805.




VERSÃO INGLESA:



O idioma inglês, assim como o português teve diversas versões. Entre elas, as que mais se destacam são:


  • Versão de John Wycliff, apareceu em 1382;


  • Versão de William Tyndale, em 1525;


  • Versão de Coverdale (a primeira versão impressa da Bíblia), em 1535;


  • Versão de Mathews, em 1537;


  • Versão King James, em 1611;


  • Versão Revista (da Inglaterra), veio em 1885;


  • Versão Revista (americana), de 1901;


  • Versão Revista Clássica, em 1952;


  • Nova Bíblia Inglesa, que apareceu em 1961.




VERSÃO ALEMÃ:

A primeira tradução da Bíblia em alemão também foi baseada na Vulgata, no séc. XIV, mas teve pouquíssima circulação. Os alemães queriam uma versão baseada na versão original das Escrituras, pois essa primeira tradução estava escrita em um alemão meio latinizado e muitos não a compreendiam, então, Martinho Lutero, grande erudito em hebraico e grego traduziu a Bíblia baseando-se diretamente nas línguas originais, em 1532. Essa tradução tornou-se a base fundamental para a tradução da Bíblia em sueco (1541), em dinamarquês (1550), em islandês (1584), em holandês (1560) e em finlandês (1642). Uma outra versão, de Wette apareceu em 1839, mas ainda hoje, a versão principal dos alemães é a de Lutero.


VERSÃO FRANCESA:

Antes da Reforma existiam muitas versões de partes das Escrituras. A primeira Bíblia completa foi traduzida por Guiars dês Moulins e foi impressa em Paris, em 1487.


VERSÃO ITALIANA:

Neste idioma, duas versões se destacam:



  • Versão de Antonio Braccioli, datada de 1530;


  • Versão de Giovanni, datada de 1607.


VERSÃO ESPANHOLA:



Neste idioma também se sobressaem duas traduções:




  • Versão de Cassiodoro Reyna, feita em 1569;

  • Versão de Cipriano de Valera, publicada em 1602.



VERSÃO PORTUGUESA:


O idioma português teve diversas versões e atualização das Escrituras. Entre elas, temos:




  • 1ª Versão Incompleta de Portugal: A primeira tradução de qualquer parte das Escrituras para o português foi realizada sob ordens do Rei de Portugal D. Diniz. Esta contava apenas com os 27 primeiros capítulos de Gênesis, tendo sido usada como base a “Vulgata”. Esta obra data-se de cerca de 1300;


  • 2ª Versão Incompleta de Portugal: Esta tradução foi ordenada pelo rei D. João I, em cerca de 1400. Compreendeu somente os evangelhos, Atos e as cartas de Paulo. Realizada por padres católicos, também foi baseada na “Vulgata”. Ao fim desta tradução, o próprio rei decidiu traduzir também os Salmos, do V.T.


  • Versão N.T.: O primeiro Novo Testamento em português foi traduzido por Gonçalo Garcia de Santa Maria, entre 1495 e 1505 por ordem da rainha Leonora.


  • Versão João Ferreira de Almeida: J. F. de Almeida nasceu em 1628, na cidade de Torre de Tavares, Portugal. A respeito de João Ferreira de Almeida: Ao traduzir a Bíblia, era pastor protestante. Erudito em grego e hebraico, usou-se dessas línguas para sua tradução, ao contrário dos outros tradutores citados anteriormente, que sempre se baseavam na Vulgata. Sua tradução foi baseada em mss muito antigos e falhos, portanto apresentou alguns erros linguísticos. Almeida traduziu primeiramente o N.T., publicando-o em 1681, em Amsterdan, Holanda..Essa tradução continha muitos erros devido a sua fonte e ao português arcaico utilizado. O próprio Almeida complilou posteriormente uma lista de mais de dois mil erros nesta versão. Muitos desses erros foram feitos pela comissão holandesa, que, ao publicar a versão, “adaptou” algumas palavras, baseando-se na versão holandesa, de 1637. Já a Bíblia completa, por J.F. de Almeida só foi publicada nos primórdios do séc. XVIII. Mesmo contando com inúmeros erros linguísticos, tanto das edições como das correções, essa é a tradução mais aceita pelos protestantes de fala portuguesa. Depois da Reforma, a tradução original de Almeida foi a 13ª a ser feita em um idioma moderno.


  • Versão Antonio Pereira de Figueiredo: A.P. de Figueiredo foi o responsável pela primeira tradução da Bíblia inteira baseada na Vulgata Latina. Nascido em Mação, Portugal, em 1725, exigiu 18 anos para concluir seu trabalho. Essa tradução foi aprovada e usada pela igreja de Roma e também foi aprovada pela rainha D. Maria II, em 1842. A linguagem de Figueiredo era superior à de Almeida porquanto era mais culto do que este último. Porém, sua versão apresentou a desvantagem de não representar o melhor do texto do N.T., devido a sua base latinizada (Vulgata). Sua versão foi publicada um século depois da versão de Almeida.


  • Versão Português/Brasileira: A primeira versão brasileira de toda a Bíblia foi editada em 1917, sob comando do dr. H.C. Tucker. Essa tradução nunca foi muito popular. Em 1956, de cada 100 Bíblias vendidas, somente 8 pertenciam à tradução brasileira.Sua grande vantagem era a melhoria e adaptação em relação à ortografia portuguesa da época. Hoje, esta tradução já não é mais impressa.


  • Versão N.T. Brasileira: Esta versão, do padre Humberto Hodhen foi publicada em 1930. Composta apenas pelo N.T., foi a primeira versão da história da Bíblia portuguesa a ser traduzida diretamente do grego.


  • Versão Matos Soares: Esta é a versão mais usada pelos católicos. Traduzida pelo padre Matos Soares, foi baseada na Vulgata latina e, em 1932, recebeu apoio papal. Quase a metade dessa tradução contém notas com explicações dos textos entre parênteses. Essas notas contém, naturalmente, dogmas da Igreja Romana, da qual pertencia o tradutor.


  • Versão de Revisão da Tradução de Almeida – Edição Revista e Atualizada: Trabalho de uma comissão que agiu sob liderança da Sociedade Bíblica Brasileira, iniciado em 1945. A linguagem foi muito melhorada. Eles se basearam na versão de Almeida, porém, com consultas aos mss gregos mais recentes, que já não apresentavam tantos erros. A base do texto grego dessa revisão é muito superior àquela usada por Almeida, em sua tradução original.


  • Versão Revisão da Tradução de Almeida – Imprensa Bíblica Brasileira: Foi publicada como Bíblia completa em 1967, no Rio de Janeiro. Contém algumas alterações em relação à Edição Revista e Atualizada. Sua revisão está baseada mais nos mss gregos do que na versão de Almeida, portanto, os eruditos crêem ser essa uma versão ainda mais perfeita que as que a antecederam.


  • Versão na Linguagem de Hoje (NTLH): Essa públicação, de 1973, é atribuída a United Bible Societies, através de seu ramo brasileiro. Baseia-se na 2ª edição do texto grego dessa sociedade (1970). O que mais o diferencia é a sua linguagem comum e contextualizada. Esta versão é, de certa forma, desprezada pelos leitores que a lêem pela primeira vez, devido a linguagem mais dura, insensível, porém, essas críticas são fundamentadas em comparação com as outras traduções, porém, poucos a comparam com os textos originais.


  • Nova Versão Internacional (NVI): Uma das mais recentes traduções, foi publicada pela Sociedade Bíblica Internacional, como New International Version. Para o português, foi iniciada a tradução em 1990, de forma que em 1994, lançou-se uma versão com apenas o Novo Testamento, e em 2001, finalizou-se a versão completa.





EF

Um comentário:

  1. Algumas curiosidades me foram sanadas
    Sallesnilton@hotmail.com

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