Jogos de Azar



Jogos de Azar
Eduardo Feldberg – 18/03/2009


Neste pequeno artigo, quero dar minha opinião sobre os conhecidos Jogos de Azar.

Acho importante um cristão ter sempre convicções bem definidas em seu coração. Eis uma difícil tarefa, pois são muitos os assuntos que envolvem a necessidade de uma postura cristã. E muitas vezes, só aprendemos que precisamos dessas convicções, posicionamento e conhecimento quando passamos algum aperto, um momento de angustia.

Há algum tempo, um conhecido meu vivenciou este momento de confronto num programa televisivo de perguntas e respostas.

No momento do jogo, o jovem se deparou com o apresentador, e seguiu-se um diálogo parecido com este:


- Eu estava conversando com você lá atrás e você disse que é cristão, né?!
- Isso mesmo. Sou evangélico.
- Mas me diz uma coisa: A Bíblia é o Livro que você segue, não é?!
- É sim! Creio que a Bíblia é a Palavra de Deus.
- Entendi. Mas a Bíblia condena a prática de Jogos de Azar. Você não cumpre essa regra?
- Er... ahnnn... A gente tenta, né... Mas acho que não tem problema.
- Puxa. Você acha que não tem problema praticar algo que sua religião condena? Que estranho...
- Er.... hehe...


De qualquer forma, o rapaz foi corajoso o suficiente para não negar a Cristo (“o suficiente”? Isto não era o mínimo exigido de um discípulo?), mas infelizmente, foi pego num assunto que nunca havia estudado, e acabou sendo, de certa forma, humilhado, por não conhecer as Escrituras e por não ter um conceito formado sobre este assunto.


No momento, além de fatores secundários, que com certeza influíram e bloquearam o raciocínio dele, como o pavor de se estar na tela de milhões de brasileiros, o “branco” que surge nessas situações, o nervosismo ao se encarar um apresentador famoso, etc., ele não se encontrava preparados para responder às indagações do apresentador, como eu também não estaria, pois não tinha ponderado seriamente a respeito deste tema, e acabou sendo vexado publicamente.

Doravante, apresentarei algumas perguntas que considero cruciais para este assunto, e necessárias para o jovem cristão e discorrerei a minha opinião.

São elas:


1) O que são jogos de azar?
2) A Bíblia condena os jogos de azar?
3) Quais os jogos de azar apropriados para os cristãos?



1) O que são Jogos de Azar?


Segundo o Aurélio, "Jogos de Azar são aqueles em que a perda ou o ganho dependem mais da sorte que do cálculo, ou somente da sorte, como, por exemplo: o jogo da roleta, loto, loterias, bingo etc."

Embora bem resumido, quero acrescentar algo.

Conforme o dicionário Michaelis, Azar significa “lance adverso; má sorte; desgraça; infortúnio; acaso.”

Azar” é, além de “má sorte”, a simples “sorte”, o simples “acaso”. Ou seja, não é somente algo maléfico e prejudicial, mas também dá a entender uma situação neutra, em que o indivíduo não sabe qual será o porvir. Se ele se dará bem ou mal.

Sendo assim, saliento o trecho da definição do Aurélio que diz “[...] ou somente da sorte”.

Muitos pensam que os chamados “Jogos de Azar” são aqueles que te sujeitam a perder tudo. Jogos em que, amiúde, vemos pais de família perdendo bens, penhorando imóveis, vendo-se dominado e desesperado atrás de uma saída para o beco em que entrou.

De fato, estes podem ser “Jogos de Azar”, mas segundo a definição do Aurélio, precisamos incluir nesta relação de jogos, aqueles em que o jogador não está sujeito a grandes derrotas, mas simplesmente a ganhar pouco ou muito. Como era o caso do programa que convocou meu conhecido.


O termo “Jogo de Azar” retêm uma conotação pejorativa, pois a palavra “azar” já denota vulgarmente algo ruim, apesar da definição mais ampla da palavra. Um termo mais apropriado para estes tipos de jogos seria “Jogo de Acaso”, ou “Jogo Imprevisível”. Algo assim.

Sendo assim, concordo com Aurélio, ao dizer que Jogos de Azar são aqueles jogos que dependem da sorte (seja ela boa / má / boa ou má), e não necessariamente jogos prejudiciais. Posso definir algumas possibilidades para definirmos os “Jogos de Azar”.

“Jogos de Azar” abrangem jogos com possibilidade de se:


  • Perder ou Ganhar Muito ou Pouco

  • Ganhar pouco ou Ganhar muito

Repare que agora, definimos o “Jogo de Azar” como algo não necessariamente maléfico ou prejudicial, mas também como uma atividade imprevisível e com chances apenas positivas, de se ganhar pouco ou muito.


Há uma grande diferença entre as possibilidades. Me diga uma coisa:


Se de repente você percebe que perdeu R$100,00.

Se de repente você percebe que perdeuR$1,00.

Se você encontra uma nota de R$100,00.

Se você encontra uma nota de R$1,00.



Obviamente você concordará comigo que as situações são, respectivamente, RUIM – RUIM – BOM – BOM.

Por quê?

Porque, além de estranhas exceções, perder dinheiro é sempre ruim, independente do valor perdido, ao passo que ganhar dinheiro é sempre bom, independente do valor adquirido.


Seguindo este raciocínio, afirmo que o ruim são os “Jogos de Azar” em que você coloca seu patrimônio em risco, sujeitando-se a alguma perda, o que não é uma regra para todos os jogos. Vou exemplificar:


Um programa como o Show do Milhão. Nele, você não tem a opção de perder o que você já tem (seu dinheiro, sua casa, seus bens materiais, etc.), mas simplesmente de ganhar muito ou pouco, a partir do momento que é sorteado. Você concorda comigo que dificilmente seria algo prejudicial ganhar uma viagem a São Paulo, com direito a hotel da melhor categoria, para você e sua família, ganhar R$300,00 e ainda participar de um programa assistido por milhões de brasileiros, que te dá chance de ganhar R$500,00 a R$1.000.000,00?


Em nenhum momento este jogo te será prejudicial. O que você pode é ganhar muito ou pouco, e o fato de você perder o que já ganhou no programa será provado unicamente pelo seu nível de conhecimento e inteligência, e não a sorte ou o azar. Não quero ser prolixo, mas esclarecer bem a diferença e definição dos termos.


Baseado no que disse acima, posso distinguir dois tipos de “Jogos de Azar”:

1) Jogos de Azar Arriscados
2) Jogos de Azar Seguros


No primeiro, há possibilidade de prejuízo, de perdas de seus bens.
No segundo, não há possibilidade de prejuízos ou perdas de seus bens.

Se Jogos de Azar são jogos neutros, em que você pode perder ou ganhar, ou ganhar muito ou pouco, precisamos filtrar os tipos de jogos em que você pode perder ou ganhar, pois estes são os jogos “ruins”.


Vou exemplificar alguns:


Loteria

Este é um tipo de jogo em que você pode ganhar ou perder dinheiro.

Caso você ganhe R$100,00, você terá um lucro de R$99,00, pois R$1,00 você gastou para comprar o seu bilhete. Agora, se você não ganhar nada, você terá simplesmente prejuízos. Perderá R$1,00 na compra do bilhete, por algo que não te trouxe benefício algum.

Bingo

A mesma situação da loteria. Neste jogo você gasta seu dinheiro para participar, mas pode sair de lá sem nenhum lucro. Pelo contrário, com um prejuízo no valor da entrada para os jogos.

Obs. Esta é uma atividade praticada por muitos sem intuito de enriquecimento, mas simplesmente de divertimento. Neste caso, os parâmetros são outros.

Sorteios

Sorteios podem ser considerados um ato de sorte ou azar, mas não são considerados jogos. De qualquer forma, considerando-se como um jogo de azar, ele é apropriado, pois é o tipo de jogo em você pode simplesmente ganhar, ou não ganhar, mas não está sujeito a perder algo. Porém, existem sorteios em que você pode ter prejuízo, pois há uma taxa para participação. Exemplificarei alguns sorteios:


Exemplo 1: Você abastece seu veículo num posto de gasolina, ou faz uma compra num Supermercado, e recebe um cupom para concorrer a um automóvel. Você não terá gasto nenhum em preencher o cupom (exceto alguns segundos de seu tempo), e pode ganhar um automóvel, ou uma casa. Risco de prejuízo para a pessoa: Zero

Exemplo 2: Você compra um número de uma rifa, para concorrer a um aparelho televisor. Neste caso, você pode ter um prejuízo no valor do número da rifa, caso não ganhe. É claro que o seu lucro será compensador, mas a probabilidade de derrota sobressai a de vitória. Trata-se de um jogo de Azar com risco de prejuízo. Mínimo, mas um prejuízo.

Obs. Essa prática pode ser um mero auxílio a alguma criança que quer muito vender sua rifa, porém, apoiar crianças nessas práticas pode não ser muito salutar.

Exemplo 3: Preencher cadastros e/ou responder questionários para concorrer a viagens, ou outros prêmios. Neste caso, você não tem gasto algum, mas simplesmente a possibilidade de ganhar ou não ganhar. Risco de prejuízo: Zero

Exemplo 4: Você compra um bem (revista, objeto, etc.) e neste bem, você ganha um cupom para um sorteio. É o caso do Show do Milhão, em que você compra uma revista, e nela, encontra o bilhete para participar do programa. Alguns podem dizer que você está comprando o bilhete, mas na verdade você está comprando um bem que te interessa, que é a revista. Aí, depende da motivação da pessoa. Alguns podem comprar a revista visando apenas o cupom. Neste caso, passa a ser um prejuízo em potencial.

Investimentos

Além das atividades de jogatina, temos também outras atividades que envolvem a sorte. Dentre eles, quero destacar um dos mais comuns: Investimentos Financeiros.

Eis aqui mais uma prática que envolve as instabilidades e vicissitudes da vida. Neste caso, das eventualidades econômicas. Os investimentos são uma forma de lucrar dinheiro, mas com uma grande possibilidade de prejuízo monetário. É claro que existem diversos tipos de investimento. Muitos inclusive, não apresentam riscos, porém, como as instituições não são bobas, tratam de propôr uma taxa de juros maior, à medida em que os riscos a que os clientes se sujeitam aumentam.

Não sou nem de longe um expert em investimentos, mas posso diferenciar pelo menos três tipos de aplicações, com algumas características distintas e particulares. São elas:

1) Aplicações em que você deposita mensalmente um valor, fixo ou variável, e pode resgatá-lo totalmente, corrigido com juros e correções monetárias no final do prazo de resgate. Um ano, dois anos, etc. Esta é uma boa aplicação, pois não o expõe a riscos. O único fator negativo é que você só pode sacar o valor ao término do prazo de resgate. Se sacar antes, sacará menos que o valor depositado até então.

2) Aplicações em que você deposita um valor, e o aumento ou diminuição dele varia de acordo com as variações financeiras do mercado. Se a Bolsa de Valores subir, sua aplicação subirá. Se acontecer alguma crise financeira, sua aplicação diminuirá. Trata-se de um jogo de sorte muitas vezes mais prejudicial que diversas outras práticas. Ainda dentro deste tipo de aplicação, há uma divisão.

a) Existem aplicações variáveis, porém, que garantem sempre o resgate de, pelo menos, tudo aquilo que você depositou, mas não garantem tudo aquilo que você já lucrou nos rendimentos da aplicação.

b) Existem, porém, as aplicações que não garantem nada. Você pode depositar R$10.000,00, no decorrer de um ano, lucrar mais R$3.500,00, mas, numa eventual crise de mercado, te sujeita a perder tudo o que tem, e algumas vezes, até ficar devendo algum valor à instituição financeira.

É claro que existem pessoas muito bem instruídas neste mercado financeiro, mas uma crise é comumente inesperada e imprevista.

"Reza a lenda" que um bilionário oriental, dono de uma fortuna de aproximadamente U$$ 42.000.000.000,00 se suicidou, após perder U$$ 16.000.000.000,00 e ficar com apenas U$$26 bilhões em sua conta.

Investimentos também podem ser muito arriscados, e devem ser contratados mediante uma ponderação séria e pormenorizada.


Conclusão: “Jogos de Azar” são jogos e práticas que você não sabe o resultado, e que não possuem obrigatoriamente possibilidades de prejuízos inerentes.


2) A Bíblia condena os Jogos de Azar?


Muitos são sumários em declarar a condenação bíblica a estes jogos, porém, em nenhum versículo a Bíblia cita essa prática. Nem sequer a palavra “jogo” é mencionada nas Escrituras. A única referência a algo parecido ocorre em Mt. 27.35, em que os soldados “jogaram sortes” para decidir quem ficaria com a túnica de Jesus.

Alguns se valem dos versículos 11 e 12 de Isaías 65, dizendo que ali há uma condenação à pratica de jogatina, mas não é o caso. “Sorte” e “Destino” são os nomes de um deus e uma deusa pagãos. O pecado ali é a idolatria, e não a jogatina. Basta analisar o contexto imediato e remoto para verificarmos o “motivo da bronca”.

A Bíblia não condena esta prática, entretanto, baseados em outros parâmetros, podemos filtrar o tipo de prática cristã adequada. São eles:



1) Não devemos nos deixar dominar, viciar por algo (1Co 6.12)

2) Não ceder à ganância contaminar nosso coração (Cl 3.5; Tt 1.7)

3) Não devemos amar o dinheiro (Ec 5.10; 1 Tm 6.10)

4) Não devemos gastar nosso dinheiro naquilo que não nos é realmente útil e que não agrada a Deus. (Is 55.2 – Entenda este versículo!)

5) Não devemos viver a vida tentando enriquecer facilmente, sustentando a vadiagem. A Bíblia diz que devemos conquistar nosso dinheiro com o nosso trabalho (Gn 3.19; 2 Ts 3.10, 11; Pv 13.11 / 21.25)

6) Não devemos confiar no homem, nas probabilidades casuais e promessas humanas. O cristão deve ter sua fé sempre em Deus. É claro que Deus pode se valer dos meios que quiser para nos abençoar, mas nossa confiança deve estar nele. (Jr 17.5-8)

Se sua prática não incide em nenhum desses princípios, vá em frente!



3) Quais os jogos de azar apropriados para os cristãos?


Levando em consideração o que já disse, reputo que os jogos e práticas de azar permitidos são os que não lhe geram:


1) Possibilidade de perder algo; (possibilidade geral)

2) Possibilidade de vício; (possibilidade relativa)
3) Possibilidade de apego ao dinheiro; (possibilidade relativa)

4) Possibilidade de se gastar seus bens de forma inútil, medíocre; (possibilidade relativa)

5) Possibilidade de se “fazer a vida fácil”, sem trabalho, solapando a preguiça; (possibilidade relativa)

6) Confiança em homens, promessas e/ou probabilidades matemática. (possibilidade relativa)


Possibilidades Gerais são as possibilidades que todos nós estamos sujeitos, a despeito de nossas fraquezas, personalidades, interesses.

Possibilidades Relativas são aquelas que dependem da pessoa. Se ela é mais influenciável, suscetível ao vício, com personalidade fraca e com pouco senso crítico e racional.


Nossa... Mas sobra alguma coisa?

Sim! Todos os tipos de sorteios e jogos nos são lícitos, mas apenas alguns convém.

Campanhas como:
  • “Preencha e Concorra”;

  • “Crie um Desenho e Participe”;

  • “As 10 melhores Frases Levarão um Playstation”;

  • “Participe do nosso Quizz e Aguarde!”;

  • “Envie o Código de Barras” (sem despesas de postagem);

  • “Indique um Amigo e Torça”;

  • “Cadastre-se em Nosso Site e Ganhe”.


São tipos de Jogo de Azar "admissíveis", pois não te possibilitam prejuízos e habitualmente não furam a peneira de parâmetros acima.


Conclusão



Como Paulo nos diz em 1 Co 6.12, “...todas as coisas nos são lícitas, mas nem todas convém...”.

Todos os tipos de jogos de azar podem ser jogados, mas nem todos são práticas convenientes aos cristãos (e às demais pessoas, é claro). Todos os jogos são permitidos, mas nem todos são inteligentes.


E a ignorância é um péssimo estigma. Muito mais quando verificada e acionada por meio de um chamariz da mídia que induz pessoas sem senso crítico, noção e domínio próprio ao erro.

Não quero escrever um daqueles artigos contundentes, que proíbem categoricamente isso ou aquilo, mas simplesmente expôr o que eu penso, com base em minha experiência e principalmente na Palavra.


Quero fazer uma última pergunta, retórica, que embora formulada de forma aparentemente parcial, é imparcial:


- Ao despender seu dinheiro em jogos de azar, você acredita estar tomando uma atitude inteligente e racional ou simplesmente impulsiva, engodado pela imensidão de “zeros” que pulam a sua frente, esquecendo-se que as possibilidades de vitória são muito menores que o inverso do convidativo numeral?


Faça o que você achar mais inteligente, e lembre-se sempre daquele filtro muito útil para se decidir satisfatoriamente uma questão obscura:




Jesus faria isso?




Se você acha que sim, vá em frente!

Se você acha que não, deixe para lá.




E lembre-se:

- Você pode ser tão bom quanto Ele, que agora habita em você.




Que a paz de Cristo seja o árbitro em seu coração! Cl 3.15



"Mas o Consolador, o Espírito Santo, vos ensinará todas as coisas...” Jo 14.26

“[...] a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas....” 1 Jo 2.27





E.F.

Um comentário:

  1. Valeu Duda não consegui ler tudo pq é gde demais, mas pelo pouco que li, achei ótimo, vc escreve muito bem. Continue escrevendooooooo....vc tem futuro...hehehehe...

    ResponderExcluir

Fique à vontade para deixar seu comentário. Não costumo responder neste espaço, então, caso queira um retorno, lembre-se de deixar seu e-mail no comentário. Obrigado!