CASOS DE SUICÍDIO NA BÍBLIA
Por Eduardo Feldberg – 14/01/2011

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Embora não tenha tanto interesse neste assunto, discorrerei agora sobre os casos de suicídio encontrados na Bíblia, apenas a título de curiosidade.

De certa forma, acho este assunto interessante e um tanto polêmico, pois encontro alguns pontos e opiniões divergentes nesta discussão. Tenho algumas idéias um pouco diferentes da maioria, em alguns aspectos. Penso que muitos são demasiadamente sumários em afirmar coisas sem a devida reflexão, como casos envolvendo a Eutanásia, um pouco mais intricados. Alguns pontos que acho importante discutir:


• Existem diversos casos de suicídio, portanto nem todos são iguais;

Não existe o versículo “os suicidas não herdarão o Reino dos Céus”, apesar de outros darem a entender isto;

• Será mesmo que todos os casos de suicídio levam ao inferno? Inclusive a Eutanásia?

• Se você acha que todo suicida vai para o abismo, deve obrigatoriamente admitir que Sansão irá para o Inferno, mesmo sendo um Herói da Fé!

Será correto afirmarmos que um homem que está acamado há anos, dando um prejuízo de R$10.000,00 para seus familiares (ou seja, se sentindo um “peso”), sem expectativa de melhora, e com previsão de nunca mais ter movimentos, por exemplo, está pecando ao pedir e aprovar a própria morte mediante a Eutanásia? (Deus pode fazer o impossível, mas se é pra julgarmos a fé dele, é melhor outro atirar a primeira pedra, pois eu não me atreveria!)


Há diversos tipos diferentes de suicídio, e falarei um pouco sobre eles neste artigo.

Estudando sobre este assunto, reparei que há muito preconceito com relação às pessoas que se suicidam, dizendo que são pessoas fracas, sem personalidade, ou pessoas que apresentam ameaças para a sociedade, porém, penso que a coisa é muito mais complexa que isso, e acusar ou julgar tais pessoas sem ouvi-las ou acompanhá-las é muito fácil. Acusar um depressivo é muito fácil quando nunca se passou por uma depressão. Dizer que uma pessoa que se suicida após ter perdido dois filhos num acidente em que ela mesma dirigia é “fraca de personalidade” é fácil, quando nunca se enfrentou tal situação. Como disse, só acho que muitos são apressados demais em afirmar algumas coisas, quando não viveram a dor. Reitero que em hipótese alguma sou a favor do suicídio, mas desaprovo alguns termos e caracterizações que vejo a respeito destas pessoas que muitas vezes desconhecemos.

Creio que só Deus conhece o coração de cada um destes, que infelizmente se vão sem conhecer O Caminho, A Verdade e A Vida. Se alguns dos maiores profetas do Antigo Testamento, como Elias e Jeremias, pediram a morte a Deus por alguns problemas sociais e ministeriais, quem somos nós para julgar e depreciar um ímpio que sequer conhece o verdadeiro amor de Jesus Cristo, por ter se matado ao perder toda a família num incêndio! (É... Precisamos nos apressar em nosso “Ide”!)

Entenda que sou absolutamente contra o suicídio, mas de igual forma, sou contra cristãos que dizem que os suicidas são “fracos de personalidade, frouxos, ignorantes”, mas não se levantaram de seus sofás confortáveis, para ouvir ou ajudar estes iminentes condenados ao inferno. Precisamos ser misericordiosos, e não acusadores.

Vou citar as ocorrências encontradas tanto no Novo quanto no Antigo Testamento, comentar sobre a situação em que estavam os suicidas antes do ato, mas primeiro, passarei algumas informações sobre esta prática, infelizmente em voga nos tempos modernos.

 Suicídio: Do latim, significa matar a si mesmo (sui = próprio, e caedere = matar). Ação ou efeito de suicidar-se; pôr termo à própria vida.


Peguei estas definições no Dicionário Michaelis. Como sabemos, um suicídio é o ato de tirar a própria vida. Como disse acima, infelizmente essa é uma prática bem comum nos nossos dias, principalmente com a eminência da Depressão nos últimos anos. Segundo a Wikipédia, cerca de 1.000.000 de pessoas se suicidam anualmente no mundo, e isto a torna a 10ª maior causa de mortes da humanidade.

Embora a definição da palavra seja bem clara, existem mais de um tipo de suicídio, conforme a situação, a motivação e outros fatores. Abaixo escreverei rapidamente sobre cada um destes tipos, que, embora difiram entre si quanto ao “por que” ou “para que”, são igualmente qualificados como atos de suicídio.

Suicídio Egoísta: Este é o tipo de suicídio mais comum, onde o praticante opta por tirar a própria vida pensando apenas em si mesmo. Não visa um bem maior, mas apenas encerrar seu ser com a morte. Acontece muito com pessoas sem laços de amizade e relacionamento com outras pessoas, de forma que, em sua mente, a morte não afetará mais ninguém, exceto a si mesmos. Muitas vezes o indivíduo se mata para evitar a dor ou o sofrimento, como os suicídios causados pela depressão, término de relacionamentos, sentimento de frustração ou baixa-estima. Também é muito comum em pessoas extremamente individualistas, que não demonstram nenhum interesse pelo próximo ou pela sociedade em geral. Um exemplo de um Suicídio Egoísta é o de uma pessoa que se suicida por se sentir muito vazia, e com uma vida sem sentido.

Suicídio Altruísta ou Suicídio Heróico: Este é o tipo de suicídio contrário ao Suicídio Egoísta. Ocorre quando uma pessoa se mata pensando no bem de outra pessoa. Por exemplo, suponhamos que você está numa torre que certamente irá despencar, a não ser que você ou seu irmão pule. Se você pular, estará efetuando um Suicídio Altruísta, pois pulou para que seu irmão sobrevivesse. Há uma cena parecida no filme “Limite Vertical”. Alguns religiosos extremistas acreditam estar cometendo este tipo de suicídio ao se lançarem contra aviões ou se explodirem, pois pensam que isto é um ato de heroísmo em favor de sua causa religiosa.

Suicídio Anômico: O termo grego “anômico” significa “sem lei”, e suicídios assim são os que ocorrem quando o suicida passa por alguma mudança abrupta em sua vida, que influencie e interfira demais em sua vida político-econômico-social. Trata-se de um “escape” do sistema em que vive. É feito por pessoas muitas vezes desorientadas e chocadas com uma situação social ou econômica insustentável. Um exemplo deste caso seria o daquele bilionário que se suicidou, pois perdeu US$5 bilhões de sua fortuna, e teria que viver “apenas” com o restante, de US$13 bilhões! Isto foi um grande baque para ele, e o levou ao suicídio.

Suicídio Fatalista: Este tipo de suicídio é bem parecido com o Anômico, e ocorre devido às excessivas exigências da sociedade, que acabam por reprimir os desejos e paixões da pessoa, gerando uma realidade e condições de vida inaceitáveis. Por exemplo, um comunista que vive extremamente tenso devido às exigências de uma sociedade opressora, que dificulta toda e qualquer forma de crescimento pessoal, ou por um morador de rua sem a menor expectativa de vida, devido à corrupção e impossíveis condições de melhoria de vida.

Suicídio Assistido (Eutanásia): Este é um dos casos mais polêmicos de suicídio, pois as opiniões em torno dele são variadas. Tanto que este é um procedimento admitido em alguns países, enquanto outros o rejeitam. Acontece quando alguém busca a morte, porém solicita auxílio de outra pessoa neste propósito. A outra pessoa o faz mediante autorização do moribundo, ou solicitador, quando este não pode cometê-lo. Pode ocorrer em qualquer ambiente, mas a mais discutida é a Eutanásia executada em hospitais, por um médico autorizado a tal procedimento. Um exemplo é o de uma pessoa que se encontra em estado semi-vegetativo, que consegue até falar, mas não consegue se mover, e pede ao médico que acabe com este sofrimento, mediante aplicação de algum produto que a leve ao óbito.

Suicídio Assassinato ou Ataque Suicida – Ocorre quando um indivíduo mata alguém e em seguida se mata, ou quando mata outros indivíduos no ato de seu suicídio. Trata-se de um ato criminoso e terrorista muito comum entre religiosos fanáticos. O caso de Sansão se encaixaria neste tipo de Suicídio, caso analisado pela sociologia, por isso que comentei sobre a dificuldade deste caso na abertura deste artigo. Outro exemplo é o dos famosos Kamikazes, pilotos de avião japoneses que se lançavam contra o inimigo durante a Segunda Guerra Mundial.

Suicídio em Massa: O nome já diz tudo. Tratam-se dos suicídios realizados por diversas pessoas ao mesmo tempo. Há muitos casos antigos, e alguns casos mais recentes de auto-extermínios coletivos, principalmente os fomentados por fanáticos sectários.

Casos de Suicídio na Bíblia

Na Bíblia encontramos sete casos de suicídio, e vou comentar sobre cada um deles:


1) Nome: Abimeleque

Texto: Juízes 9:54: “Imediatamente ele chamou seu escudeiro e lhe ordenou: "Tire a espada e mate-me, para que não digam que uma mulher me matou". Então o jovem o atravessou, e ele morreu.”

Ocasião: Abimeleque foi um dos muitos filhos de Gideão. Quando Gideão morreu, Abimeleque mandou matar seus setenta irmãos, para assumir o poder da cidade de Siquém, e tornou-se rei da cidade. Porém, seu irmão mais novo, Jotão, conseguiu fugir e se esconder de seu irmão em outra cidade. Três anos depois, o Senhor permitiu que um espírito maligno gerasse uma revolta na cidade de Siquém, a fim de punir o grande pecado de Abimeleque. Após muitas batalhas, Abimeleque venceu os inimigos, e numa última oportunidade de matá-los, ele se dirigiu próximo a uma torre alta, onde alguns inimigos estavam escondidos, e quando ia destruí-los, uma mulher desconhecida jogou uma pedra bem grande que bateu bem na cabeça de Abimeleque, rachando seu crânio. Ele não morreu na hora, mas provavelmente ficou bem machucado e limitado. Para não ter que aceitar a “humilhação” de ter sido morto por uma mulher, Abimeleque ordenou que seu escudeiro o matasse com uma espadada, e assim, morreu.

Observação: Creio que este foi um caso parecido com o da Eutanásia, ou Suicídio Assistido, pois o Rei Abimeleque queria morrer, mas provavelmente não conseguia, então pediu a outro que o matasse.


2) Nome: Sansão

Texto: Juízes 16:30: “E disse Sansão: Morra eu com os filisteus. E inclinou-se com força, e a casa caiu sobre os príncipes e sobre todo o povo que nela havia; e foram mais os mortos que matou na sua morte do que os que matara em sua vida.”

Ocasião: Neste caso, o famigerado Sansão foi traído e capturado pelos inimigos filisteus, e tendo perdido suas sete tranças, perdeu também a força que o caracterizava. Num último pedido a Deus, para uma provável última oportunidade, Sansão pediu a Deus que restaurasse sua força, para que se vingasse de uma vez por todas dos filisteus. Deus ouviu seu clamor, concedeu-lhe forças, e Sansão derrubou as colunas principais do local em que estava, suicidando-se e também matando muito mais que mil homens de uma vez só.

Observação: Esta cena nos mostra um caso de Suicídio Altruísta ou Ataque Suicida, pois envolve outras mortes, além da do suicida. Como disse acima, acho um pouco complicado caracterizar este ato como um ato altruísta, pois apesar de os filisteus serem deveras inimigos dos israelitas, o versículo 28 me dá a entender que a motivação de Sansão era muito mais egoísta, pelo que os filisteus haviam feito a seus olhos, do que altruísta, pensando no bem de seu povo. De qualquer forma, tratou-se de um destes dois tipos de suicídio.


3) Nome: Saul

Texto: I Samuel 31:4: “Então Saul ordenou ao seu escudeiro: "Tire sua espada e mate-me com ela, senão sofrerei a vergonha de cair nas mãos desses incircuncisos". Mas seu escudeiro estava apavorado e não quis fazê-lo. Saul, então, pegou a própria espada e jogou-se sobre ela.”

Ocasião: Neste episódio, Saul, o primeiro rei de Israel, fora a um combate contra os filisteus, e desta vez o povo israelita foi à bancarrota. Os filisteus perseguiram e mataram a Jônatas, filho de Saul, e acertaram flechas no Rei de Israel. Saul, temendo que os filisteus o capturassem e o humilhassem ou mutilassem, pediu ao seu escudeiro que o matasse, para evitar tal situação. O escudeiro se recusou a matá-lo, então Saul se matou, lançando-se sobre sua própria espada.

Observação: Neste caso, vemos uma tentativa de Suicídio Assistido frustrada, e então um Suicídio Egoísta. Por medo de algo pior, ou de alguma espécie de humilhação, Saul deu cabo da própria vida, tornando-se um suicida.


4) Nome: Desconhecido - Escudeiro de Saul

Texto: I Samuel 31:5: “Quando o escudeiro viu que Saul estava morto, jogou-se também sobre sua espada e morreu com ele.”

Ocasião: Logo após o suicídio do Rei Saul, seu escudeiro, que anteriormente se recusara a matar o Rei, se vê numa situação desesperadora, onde os filisteus provavelmente em breve o capturariam, e repete o ato de Saul, lançando-se também sobre sua própria espada.

Observação: Temos aqui outro caso de Suicídio Egoísta, onde o escudeiro se matou a fim de evitar conseqüências nas mãos dos inimigos filisteus.


5) Nome: Aitofel

Texto: II Samuel 17: 23: “Vendo Aitofel que o seu conselho não havia sido aceito, selou seu jumento e foi para casa, para a sua cidade natal; pôs seus negócios em ordem, e depois se enforcou. Ele foi sepultado no túmulo de seu pai.”

Ocasião: Aitofel foi o avô de Bate-Seba, portanto bisavô de Salomão, e um sábio conselheiro do rei Davi. Após alguns descontentamentos com o modo de agir de Davi, Aitofel se aliou a Absalão, que estava tramando contra o próprio pai (Rei Davi). Em determinado momento, Aitofel aconselhou Absalão, sei líder, a que o liberasse, com mais doze mil homens, para matar o rei Davi. Absalão gostou da idéia, mas acabou desprezando a idéia, quando outro conselheiro chamado Husai deu uma idéia que, na opinião do aspirante a rei de Israel, Absalão, era melhor. Deus permitiu que isso acontecesse para frustrar o plano de Aitofel, que realmente era bom e poderia ter sido bem sucedido. Ao saber que seu conselho não havia sido ouvido, Aitofel pegou seu jumento, foi para sua cidade natal, arrumou suas coisas e se enforcou. Provavelmente agiu assim, pois sabia que Absalão perderia a guerra, e que em pouco tempo seria acusado por traição.

Observação: Trata-se de outro Suicídio Egoísta, motivado pelo desgosto de não ser ouvido, ou pelo temor das conseqüências iminentes.


6) Nome: Zinri

Texto: I Reis 16:18: “Quando Zinri viu que a cidade tinha sido tomada, entrou na cidadela do palácio real e incendiou o palácio em torno de si, e morreu.”

Ocasião: Zinri era oficial bélico de Elá, rei de Israel. Zinri conspirou contra ele e o matou, assumindo o trono da cidade de Tirza. Quando o povo soube que o rei Elá tinha sido traído por Zinri, proclamaram Onri, o comandante do exército de Israel como novo rei. Este, por sua vez, sitiou a cidade de Tirza, para capturar e matar o traidor Zinri. Zinri, ao ver que estava cercado e que seria capturado, entrou no palácio da cidade e o incendiou consigo mesmo.

Observação: Vemos aqui mais um caso de Suicídio Egoísta, onde um homem se mata para fugir de uma conseqüência temível.


7) Nome: Judas

Texto: Mateus 27:5: “E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.”

Ocasião: Certamente o caso mais conhecido de suicídio bíblico. Vemos em Judas o último caso de suicídio nas Escrituras. Após trair a Jesus Cristo por míseras trinta moedas, e ver que não havia como remediar a situação, Judas foi se enforcar. Ao lermos Atos 1.18, podemos pressupor que Judas se enforcou, e que provavelmente o galho em que o fez se quebrou, derrubando o corpo de Judas sobre pedras.

Observação: Este caso também se encaixa na categoria de Suicídio Egoísta, mas desta vez motivado talvez pelo desespero, remorso, agonia, sentimentos horripilantes, algo assim.


EF