
Por Eduardo Feldberg – 18/05/2006
- João 8.32 – "...e conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará."
- João 8.36 – "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres."
- Romanos 6.18 – "E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça."
- 1 Coríntios 6.12 – "Todas as coisas me são lícitas mas nem todas me convém."
- 1 Coríntios 8.9 – "Faça com que sua liberdade não escandalize os mais fracos."
- 2 Coríntios 3.17 – "O Senhor é Espírito e onde Ele está há liberdade."
- Gálatas 5.1 – "Estejais firmes na liberdade de Cristo. Não se submeta novamente sob o jugo da escravidão."
Liberdade: Faculdade que cada um tem em decidir ou agir segundo a própria determinação; estado ou condição de homem livre; faculdade de uma pessoa poder dispor de si, fazendo ou deixando de fazer por seu livre arbítrio qualquer coisa; gozo dos direitos do homem livre; independência; autonomia; permissão.
O homem já nasce pendendo para o pecado. Intrínsecamente concupiscente, nossa natureza carnal é propensa ao pecado e, se não nos aliarmos a Cristo, despencaremos de abismo em abismo. Devido ao pecado original (Adâmico), o pecado geral ingressou no mundo por um só homem (Rm 5.12). As pessoas que não compactuam com o Senhor Jesus jazem no maligno, à guisa do mundo em que vivemos (1 Jo 5.19).
Ao entregarmo-nos a Cristo e nos unirmos a Ele, somos verdadeiramente livres (Jo 8.36) do pecado, da condenação eterna, do domínio de Satanás e passamos a viver não mais sob a lei do pecado, mas sim sob a graça de Cristo (Rm 5.18). Se conhecermos ao Senhor e a Sua Palavra seremos libertos (Jo 8.32) e alcançaremos graça e misericórdia do Senhor para iniciarmos uma nova vida. Nos tornaremos "templo" do Espírito Santo (1Co 6.19) e não viveremos mais em favor de nosso bel-prazer, mas Cristo viverá em nós (Gl 2.20).
Quero crer que essa liberdade é unânime no senso comum mas quero me ater a outro caminho asfaltado por esta palavra: A "liberdade de expressão". Este sim é um assunto controverso no meio eclesiástico.
Há um ditado que afirma que "nossa liberdade pode ir até onde meu próximo aceitar", mas até quando os cristãos se limitarão à uma expressão regrada ou à uma adoração quadrada e engessada devido ao farisaísmo, hipocrisia, tradicionalismo, legalismo e, ouso dizer, mediocridade dos que nos rodeiam? Não se pode mais gritar (Js 6.20), não se pode mais bradar (Is 24.14), não se pode mais dançar (2Sm 6.14) nem mesmo aplaudir (Sl 47.1).
Num país extremamente tropical e cálido como o nosso, os membros da comunidade precisarão deveras sacrificar-se embalde utilizando trajes pertinentes à cultura nórdica e friorenta, tais como ternos, coletes e por fim, a forca: a gravata? Num dia ensolarado paulista de 40ºC os pastores devem se vestir de acordo com os costumes norte-americanos? Não sou contra a exposição desta indumentária, mas tenho tudo contra a imposição dela. Tudo contra a legalização e padronização deste molesto uniforme.
Muitos atropelam a questão cultural, os usos e costumes e interpretam mal trechos especificamente direcionados à uma determinada igreja ou povo e generalizam uma "regra", tal como a questão capilar, vestuária, a moda, jóias e atavios, etc... Inferem mediante o verso 14 de 1Co 11 que é desonroso para o homem ter cabelos compridos mas tornam-se cegos ao versículo seguinte, que discorre acerca do opróbrio da mulher com cabelos curtos. Se este trecho é um preceito absoluto, por que não vemos mulheres de cabelo curto usando véu?
Se há uma obrigatoriedade quanto ao comprimento do cabelo dos homens e mulheres, onde Deus colocaria a honra dos nazireus e das mulheres cancerosas, que perdem sua "glória" em detrimento de sessões quimioterapêuticas? Se este é um fator peremptório na distinção entre os sexos, muitas vovós serão confundidas com vovôs.
Como li este dia num comentário bíblico do Pr. Ricardo Gondim (e concordei), "para um trecho bíblico ser considerado um preceito, a orientação deve ter aplicabilidade universal". Como as mulheres africanas, cujo cabelo cresce para cima deixará o cabelo comprido? Deficiências físicas e características populares e culturais tornar-se-ão pecados, se esta ótica míope for aceita.
Embasados no segundo capítulo de 1 Timóteo, alguns cristãos pregam obstinadamente contra o uso de jóias, afirmando que enfeites exteriores são abominação ao Senhor, mas novamente "escamam" seus olhos, mostrando-se péssimos exegetas, pois evitam confrontos diretos com versículos como Lc 15.22, Ez 16.10-14, Pv 25.12, leituras que, metafóricas ou não, mostram as jóias com conotação positiva. Seria Deus incoerente? Má interpretação! Prefiro crer que Deus é sábio e o homem, néscio.
Homens não podem usar bermudas? Por quê? Ora, isso é óbvio! Porque na Bíblia não se encontra tal descrição em nenhum homem de Deus. É bom saber... espero que os adeptos desta concepção anacrônica visitem a igreja nos próximos cultos vestidos à la João Batista, afinal, a moda não pode influir na vida do crente. Espero que comam gafanhotos também, afinal, não há nenhum relato bíblico mencionando uma feijoadinha.
Um assunto mais delicado é o concernente às tatuagens e piercings. Muitos dizem que essas práticas são abomináveis pela própria Escritura Sagrada, que orienta o homem a não cair nesta cilada.
Para provarem a proibição de tatuagens e piercings, recorrem à Lv 19.28. Seria bom se estes irmãos lessem o contexto, não apenas o texto.
Clichezinho básico: "Texto sem contexto é pretexto para uma heresia", certo?!
Se colocar piercing no corpo é pecado pois é necessário fazer cortes no próprio corpo, espero que a mãe destes censuradores usem brincos de pressão. Ou que tenham furos auriculares ingênitos. Assim como não se pode marcar o corpo nem fazer cortes no corpo de forma alguma, também deveríamos sacrificar um cordeiro pela nossa culpa (v.21), não comer carne "mal-passada" (v. 26), não cortar o cabelo de forma arredondada (v. 27) muito menos cortar a ponta de nossa barba (v. 27). Heresia ou não, para mim é evidente que o próprio Jesus Cristo tatuou uma linda frase em Sua coxa (Ap. 19.16 – NVI). Será que Ele será salvo mesmo tendo cometido esse delito? Há todo um contexto que exige um estudo muito mais aprofundado do que a mera leitura rasteira.
Saibam que na língua vernácula do A.T. encontramos diversos trechos indicando mulheres que usavam brincos no nariz (e.g. Gn 24.22,47, dentre outros), anéis nos dedos dos pés e algumas outras formas de utilização de atavios consideradas execráveis hoje em dia.
Obs. No caso de tatuagens, que haja sabedoria na escolha do desenho. Elementar, meu caro Watson...rs....
Até mesmo os instrumentos são vetados em algumas igrejas, devido à sua origem. Dizem que a percussão, por exemplo, deve ser "excomungada" da igreja pois nasceu em meio ao povo pecaminoso praticantes de religiões afro-brasileiras. Um ótimo argumento. Se os cristãos devem evitar – seja para a adoração direta ou indireta do Senhor – tudo o que alguma ovelha perdida criou, melhor criarmos uma colônia alienada do mundo. A quem será que os descendentes do primeiro homicida Caim adoravam com a flauta e a harpa, criação de Jubal, fruto do proto-polígamo bíblico Lameque? Não sei. Conjecturo o pior. Deveríamos então proibir o uso destes instrumentos?
O cristão é livre mas muitas vezes os "irmãos" querem nos meter novamente debaixo do jugo da escravidão não apenas espiritual mas também cultural. Para muitos, a liberdade outorgada ao crente é estrita à questão moral, mas prefiro crer que essa liberdade é mais abrangente, compreendendo também a liberdade de expressão. Cada um deve se expressar como lhe apraz. No Reino de Deus não há uniforme, a não ser as vestes brancas que nos são dadas. O Reino é acultural. Se o único Manual perfeito não coíbe, então libera.
"Pessoas admitem que a árvore se conhece e reconhece pela madeira do tronco e não mais pelos frutos gerados. São crentes que rotulam embalagens desconhecendo o conteúdo."
A Bíblia nos afirma categoricamente que não devemos escandalizar os mais fracos. Contra este argumento talvez não hajam contra-argumentações, mas distorcer um trecho bíblico por uma conveniência subjetiva e frívola é inadmissível.
Liberdade difere de Licenciosidade!
Deus nos dá sabedoria a fim de fincarmos parâmetros em nossa liberdade, afinal, perderemos a razão se ela escandalizar os mais fracos (1Co 8.9). O problema é este:
"-Até quando engaiolaremos nosso modo de ser e nossos direitos devido ao melindre encontrado nos irmãos legalistas que deformam a Palavra para provarem o improvável?"
O Caminho se estreita ainda mais por convivermos com pessoas.
E.F.
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